V. Guimarães, Braga e Benfica: os bancos atraem opostos
CONTRA-GOLPE - Uma opinião de João Araújo
O Vitória de Guimarães entrou com estrondo na competição oficial, pois um triunfo por 3-0 na Europa, ainda que na terceira prova da UEFA e mesmo sendo legítimo levantar interrogações sobre o valor do adversário húngaro, é um acontecimento comparável ao tiro de partida para uma corrida bem-sucedida.
Só dentro de meses se perceberá a "endurance" deste Vitória, até por haver um histórico de clubes que pagaram a fatura destes começos de época madrugadores e em força, mas por agora é o impacto deste bom início que importa salientar, mais ainda tendo como pano de fundo uma troca de treinador dias antes. Sim, se o futebol é o momento, então Moreno já tem a vantagem do seu lado do campo e a Direção vitoriana um sorriso rasgado em vez de um amarelado.
A saída de Pepa e a aposta no antigo defesa-central (e elemento sempre muito ativo e emotivo no banco como técnico-adjunto) incluíram o clube vimaranense no lote dos que estreiam treinadores esta época. E se Nélson Veríssimo, no Estoril, e Ivo Vieira, no Gil Vicente, têm competentes e pesados precedentes a pairar sobre as respetivas cabeças, os técnicos de V. Guimarães, Braga e Benfica constituem casos particulares. Os dois primeiros, semelhantes - por muito que os pontos de contacto possam desagradar às massas adeptas, sempre prontas a "mimarem-se"... -, o terceiro, diferente.
Moreno pode até dar a sensação de ter sido solução de recurso pelo timing da escolha, mas acaba por ser a peça do puzzle que encaixa no espaço onde Pepa já estava a encravar. Tal como Artur Jorge, no Braga, é um homem da casa (terem sido ambos centrais é apenas mais uma coincidência), tanto no sentido do conhecimento do capital humano do clube, dos funcionários aos adeptos mas especialmente do número crescente de jovens que diariamente treinam para chegar à equipa principal; como no sentido de terem a perfeita noção da lógica que ambos os clubes têm de realizar capital, ainda que podendo correr riscos no plano desportivo. Os vitorianos em situação financeira mais aflitiva, os bracarenses mais folgados, mas ambos bem mergulhados no conceito de produzir craques na respetiva academia para os grandes de Portugal ou para o estrangeiro.
A unir os treinadores dos dois maiores clubes do Minho há ainda, e naturalmente, a não menos importante curiosidade sobre aquilo que conseguirão fazer, visto serem verdadeiras incógnitas. E em ambos os casos a exigência será elevada, obrigando-os a mostrarem competências muito além da mística e do grito.
O que conduz a Roger Schmidt, que não tem mística encarnada nem poderia, ou não serviria para ser o "corpo estranho" executor da rotura e renovação pretendidas por Rui Costa. Se trabalhos anteriores avalizam a escolha do alemão (que foi médio, não central), caso dos troféus ganhos na Áustria, China e Holanda, este já conhecerá a fasquia da exigência a que está sujeito: o título de campeão, no mínimo, para o que lhe foram dados recursos e carta branca (supõe-se que já com algumas anotações relativas a dispensas...) para lá chegar. E se neste poder de escolha - não exatamente poder absoluto - reside uma diferença fundamental para Moreno e Artur Jorge, há um ponto de interrogação quanto ao desempenho que é denominador comum ao trio.
No caso do ex-PSV agravado pelo referido patamar de expectativas do Benfica, a que se soma a inversão da história de sucesso dos treinadores estrangeiros no nosso futebol. Neste século houve três campeões (Boloni, Trapattoni e Adriaanse), o último há 16 anos.