Quanto vale rir ou sofrer nesta altura do campeonato

Quanto vale rir ou sofrer nesta altura do campeonato

Festejam-se triunfos e empates, choram-se derrotas e crises. O que hoje é verdade, amanhã será mera recordação, até porque há um clássico. Leia a opinião de João Araújo

Com um quarto do campeonato já jogado, um balanço afigura-se oportuno, como o são a maioria dos pretextos matemáticos a que recorremos para nossa conveniência. À nona jornada, as hesitações e incertezas típicas do arranque da prova estão bem longe no retrovisor - assim como as demonstrações de força que têm de superar o teste do tempo -, pelo que aquilo para o que agora olhamos, resultados e classificação, são já tendências.

Claro que é legítimo colocar-se a questão se faz sentido partir para um balanço após nove rondas quando à décima há um FC Porto-Benfica. E logo a abrir! Mas se algo deverá resultar deste texto será, precisamente, a relativização do que até aqui sucedeu.

O Braga perdeu em casa pela primeira vez na história com o Chaves? Verdadeiro e merecido para a equipa de Vítor Campelos, que à qualidade dos executantes aliou o estudo bem feito de um Braga que cedo se partiu e inclinou, furioso, rumo à baliza adversária, concedendo espaços que até poderiam ter sido aproveitados para os visitantes fazerem o 2-0. O prémio dos flavienses foi, simultaneamente, um castigo para o desacerto dos (muitos) avançados bracarenses. Segunda derrota consecutiva na I Liga e terceira em todas as provas para os homens de Artur Jorge. Fala-se em mini-crise, mas apesar desta derrota continuam em terceiro, isolados. Há um ano, eram quintos com menos três pontos.

Relativizar é mesmo preciso, caso contrário abundariam depressões no nosso campeonato perante o quarto lugar do promovido Casa Pia. Que também perdeu, mas beneficiou do empate caseiro do Boavista (três lugares e cinco pontos acima da última temporada) com... o Marítimo, sim, esse mesmo, que até esta jornada somava zero pontos! À nona jornada de 2021/22, os rubro-negros tinham mais seis pontos e eram 13.ºs, com os mesmos sete pontos do Moreirense e menos dois do que o Tondela, ambos despromovidos no final da época... Não serve de consolo, naturalmente, apenas ilustra como estamos longe de qualquer decisão ou sentença.

Ainda assim, nesta comparação, há dois "fugitivos" destacados no grupo do desperdício pontual: o penúltimo classificado Paços de Ferreira, batido em casa por um V. Guimarães numa boa série de resultados e que tem menos oito pontos do que há um ano; e o Sporting, que em vez de terceiro é sexto, com sete pontos a menos. No caso dos leões, porém, a vitória complicada no terreno do Santa Clara e a Europa podem fundir-se numa injeção de moral. E a verdade é que o pódio onde estavam por esta altura em 2021/22 está agora a três e não seis pontos de distância!

O topo ficou propositadamente para o fim, porque nem Rio Ave nem Portimonense travaram Benfica e FC Porto, que se mantiveram, como há um ano, em primeiro e segundo, com mais um ponto e menos um, respetivamente. A diferença é de três, na próxima jornada pode ser radicalmente diferente - o dobro, igual ou nada, aceitam-se apostas -, lembrando Sérgio Godinho, que cantava "se o relativo fosse coisa que se visse"...