Os protagonistas que os grandes ajudam a criar
Vitória do Boavista sobre o Sporting e empate do Estoril com o FC Porto deram novos nomes próprios - e mais drama - a este campeonato
É inegável que olhamos para o nosso campeonato na perspetiva dos três grandes - achamos normal quando ganham e um feito quase heroico sempre que um clube fora desta elite trava as suas marchas mais ou menos triunfais. Acontece o mesmo no resto da Europa e do mundo, daí falar-se do Union Berlim como líder surpreendente da Bundesliga (que tem o decacampeão Bayern em quinto) e até do Arsenal, comandante de uma Premier League que tem sido assunto quase exclusivo de Manchester City e Liverpool.
Por cá, a sétima jornada deixou vários desses protagonistas contracorrente e que, por ter sido a última antes da paragem para seleções, ajudou a agravar os dramas psicológicos que já atormentavam alguns. A referência a FC Porto e Sporting é óbvia, sendo a crise dos leões mais grave em termos de resultados e pontos de atraso para a frente da tabela. Seria injusto, porém, atribuir o sucedido à estrelinha que parece ter abandonado Rúben Amorim e atravessado a segunda circular, porque este Boavista de Petit é, provavelmente, o mais parecido aquele em que o agora treinador enchia o meio-campo em termos de "fighting spirit", o espírito de luta tão típico do futebol britânico. E dos axadrezados, onde Kenji Gorré e Makouta reclamam espaço entre as figuras da liga e Bruno Lourenço e Martim Tavares entre as revelações. O bis do médio de 24 anos mostrou qualidade técnica acima da média (que golão o 1-0!) e nervos de aço no penálti do 2-1 - possivelmente, a qualidade que falta a este Sporting, que à sétima jornada é, das várias vidas do leão, a que vê o primeiro lugar mais longe, neste século.
Bem melhor na classificação está o FC Porto mas tal como os leões em crise de confiança e a mostrar falta de soluções para os problemas criados pelos adversários. Como o estorilista Tiago Gouveia, que foi um pesadelo a atacar o flanco esquerdo do campeão. E a marcar outro bom golo, em nova demonstração do estatuto de semideus alcançado por aqueles que devolvem os grandes à terra. Valeu Taremi aos portistas, que não tremeu da marca dos 11 metros, aos 90+9 minutos. Este foi, aliás, um dos três jogos da ronda em que foram evitadas derrotas muito para lá dos 90", tal como em Barcelos, onde Murilo fez o empate a dois para o Gil Vicente aos 90"+5", e em Arouca, onde Rúben Lameiras agarrou um ponto, de penálti, para o V. Guimarães aos 90"+12". Não é à toa que a média de minutos desta liga ultrapassa em muito os regulamentares (e obsoletos?) 90 minutos...
Aparentemente imune a oscilações segue o líder Benfica, embora deva ser sublinhada a escassa ou nula oposição oferecida na Luz por um Marítimo que trocou de treinador mas não de maus hábitos, sendo a única equipa sem pontos. Roger Schmidt deu valor acrescentado a um plantel já de si muito bem cotado - basta ver a garra com que os jogadores lutam por cada bola - e mesmo num texto onde os grandes são vistos pelo ângulo inverso é justo que se rode a posição da lente para elogiar as exibições de Rafa e Neres, a eficácia de Ramos, o atrevimento de António Silva e o aparecimento de Draxler.
A jornada fechou com um grande jogo entre Braga e Vizela e novos momentos para mais tarde recordar de Vitinha e Ricardo Horta, que só não são incluídos entre os protagonistas que os grandes ajudam a criar porque os guerreiros do Minho têm sido... dos maiores!