DESCALÇO NA CATEDRAL - A opinião de Jacinto Lucas Pires, aos domingos n'O JOGO.
O dia está limpo, os passarinhos cantam e a crónica começa por onde tem de começar: dando os parabéns ao Sporting, campeão desta temporada.
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Foi um conseguimento coletivo, como é óbvio, mas permitam-me que destaque o papel de Rúben Amorim. A diferença que faz um treinador com as ideias no sítio!... Sim, estou a falar como benfiquista - é que Jorge Jesus tem muito a aprender com o treinador do Sporting.
Bem sabemos que o técnico do Benfica sofre de autocentrismo e não gosta de ouvir os outros, de atravessar o espelho e ver a realidade à sua volta. Mas esse esforço é essencial, se não queremos outra época desastrosa como esta. Um bom começo seria olhar para o treinador do Sporting: é a humildade, a decência, a clareza que lhe dão a autoridade junto dos jogadores e dos adeptos. Sem isso, é ainda mais difícil ganhar um campeonato. Sim: mesmo com um plantel de milhões. Não é pela bazófia nem pelo sacudir das culpas (para cima de jogadores, jornalistas, comentadores, do covid ou dos árbitros...) que se ganha voz de comando ou se inspira quem quer que seja.
Por falar nisso, a primeira parte com o Nacional foi outro desastre. A mesma falta de ideias, o mesmo futebol satisfeito consigo próprio, a mesma previsibilidade... Na segunda parte, as coisas melhoraram e o Benfica acabou por ganhar sem dramas. Mas há uma perguntinha que tem de ser feita: então, Gonçalo Ramos não devia ter sido lançado mais vezes neste campeonato? Ou talvez essa perguntinha faça parte de uma pergunta maior: tanta despesa, e tanta insistência em pôr em campo as aquisições milionárias, e afinal os craques que fazem a diferença já estavam cá todos?
Luís Filipe Vieira continua a fazer mossa no prestígio do clube. Desta vez, o episódio da triste novela passou-se na comissão de inquérito ao Novo Banco
Enquanto isso, Luís Filipe Vieira continua a fazer mossa no prestígio do clube. Desta vez, o episódio da triste novela passou-se na comissão de inquérito ao Novo Banco. Bem sei que Vieira foi lá na qualidade de presidente da Promovalor, mas os danos que me preocupam são os que o Benfica sofre, por ricochete. Não serão mensuráveis os danos no prestígio? Pois não - o que só os torna piores, porque mais difíceis de estancar e compensar.
Enfim, concentremo-nos na bola. Cresci rodeado de colegas sportinguistas e não há para mim maior sofrimento futebolístico do que perder com a equipa das riscas verdes. O jogo de ontem era para mim inimaginável - o quê, o Sporting ir à Luz como campeão? (A verdade, aqui entre nós, é que continua inimaginável, mesmo tendo acontecido.) Felizmente, ganhámos - num jogo louco, de avanços e recuos. Pelo menos, marcámos mais golos do que os que sofremos... O meu "eu" adulto sabe que este 4-3 não muda nada de especial, mas o meu "eu" criança ficou feliz com a réstia de normalidade que esta vitória do Glorioso devolveu ao mundo.
