A diferença Weigl-Taarabt face a Danilo-Sérgio Oliveira
Corpo do artigo
Quando dizem que o n.º 10 desapareceu, tenho tendência, em vez de olhar para as faixas (para onde os desterraram) a olhar mais para trás e ver o que se exige aos outros dois médios. O trinco tem de ser pivot de inicio de construção e o n.º 8 tem de ser mais de chegada à frente. É onde vejo o Benfica emperrar o jogo.
A n.º 6, Weigl desenquadrado do ritmo que o jogo da equipa pede. A n.º 8, um jogador, Taarabt, que antes era um avançado caprichoso e a quem agora exigem uma responsabilidade de patrão de jogo que é um erro de casting em relação ao que ele é (porque ninguém, por mais consistência que ganhe, se transforma tanto).
A dupla Danilo-Sérgio Oliveira consegue, sem pintar tacticamente a "capela sistina", cumprir com ordem essa dupla missão. Nessa diferença que hoje se nota no meio-campo de Benfica e FC Porto (mesmo numa fase competitiva atípica) está a maior ou menor capacidade das equipas poderem ter gritos de liderança no jogo quando o adversário, mesmo quando dita equipa pequena, "engorda" competitivamente em face do momento e perde-lhes o respeito.
Como as jogadas das individualidades podem "desencaixar" as equipas que colectivamente se "encaixaram" no jogo. De Jovane a Corona
Os jogadores "fora da caixa"
1 - É comum ouvir-se, num jogo, que uma equipa "encaixou" na outra. Sucede quando ocupa em antecipação os espaços adversários preferenciais de pressão-construção e, quase promovendo um "jogo de pares", não a deixa jogar. Nesses casos, a missão da outra equipa é a oposta: a de "desencaixar" e conseguir jogar o seu jogo. Ou seja, retirar a iniciativa de "encaixe" adversário para promover a sua de "desencaixe" e, assim, ganhar/abrir os espaços. Sucedeu no Sporting-Paços, via sistemas diferentes, com o 4x3x3 castor com dois interiores Vasco Rocha-Pedrinho a pegarem na dupla de médios Wendel-Matheus Nunes do 3x4x3 leonino. A segunda parte trouxe, na individualidade de Jovane, outra forma de "desencaixar", aquela dependente do jogador que, noutros espaços e por si só, faz a diferença em jogadas. Em geral, elas sucedem "por fora" (os flancos) da "zona de encaixe" (o centro). Depois de quase desmontar o jogo assim (com finta e passe de morte para golo) consumou-o num remate de génio num livre, o lance de bola parada fora de qualquer "caixa de encaixe táctico".
2- Entre jogar num flanco ou no meio, a posição de Rafa no jogo depende sempre do... jogo anterior. Se esteve bem (ou o jogo correu bem) numa dessas posições, mantém-se nela. Se, pelo contrário corre mal, muda. De ala esquerdo contra o Tondela, surgiu contra o Portimonense como segundo avançado, descaindo muitas vezes na ala direita em trocas posicionais com Pizzi. Mais do que a posição em si, melhoraram as movimentações sem bola (diagonais curtas a ir buscar na frente em desmarcação) e, depois, tentar finalizar e passar. Enquanto funcionou essa dinâmica, o Benfica voou e dominou. Quando Paulo Sérgio fechou espaços e portas dos flancos na segunda parte, Lage foi incapaz de descobrir novas soluções para redimensionar Rafa. Ficou preso à primeira ideia mesmo quando ela deixara de funcionar. E, com isso, Rafa ficou "sem posição".
3 - Para além de cumprir o plano de jogo, Corona inventa "outro jogo" só seu: o que marca a diferença no resultado. Não se trata de individualização do jogo, mas sim de usar uma individualidade para sublimar o que o colectivo lhe pode proporcionar ou, noutras situações de jogo, o proteger para lhe dar liberdade. Corona tem, no entanto, vivido muito tempo condicionado a "serviços tácticos" que em princípio não seriam os seus (como as posições onde mais joga). Nunca lhe ouvimos, porém, uma queixa ou o mínimo amuo. É a "vocação emocional" de craque. Olhar a sua equipa antes da adversária. Antes e durante o jogo onde, com o seu talento, conquista a liberdade para criar o "seu jogo pessoal" e... fazer a equipa ganhar.