PONTAPÉ PARA A CLÍNICA - O cronista José João Torrinha escreve, nas páginas de O JOGO, sobre os acontecimentos e polémicas que marcaram a Taça da Liga
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O mês de agosto tinha acabado de começar e a época futebolística ia já dar um precoce pontapé de saída. Sendo embora o jogo para uma competição como a Taça da Liga, era uma oportunidade de ver um desafio "a sério" e confirmar as boas indicações da pré-época. A derrota que se seguiu com o Tondela foi um balde água fria. Não tanto pela importância da competição em causa, mas mais pela desilusão face à enorme expectativa que, na altura, se vivia.
Não devia ser normal um dirigente do Benfica dizer que determinado árbitro não devia arbitrar mais jogos...
E, no entanto, depois de assistir ao deprimente espetáculo que foram as meias-finais da final-four da Taça da Liga, quase apetece dizer que ainda bem que os vitorianos foram poupados a participar de semelhante tristeza.
A Taça da Liga é usualmente a competição menos valorizada por todos. Isso prende-se com razões várias: desde a sua juventude, passando por algumas edições com episódios para esquecer, até aos modelos competitivos que foram sendo sucessivamente tentados e que muitas vezes falharam. Reconheça-se, todavia, que a LPFP tem feito um esforço sério para dar mais relevância à competição.
Ora, o que se passou esta semana deve dar vontade aos organizadores de acabarem com a prova. É normal (e sempre assim será) que quem se sente prejudicado por lances de arbitragem lavre o seu protesto. Mas o que aqui se passou foi tudo menos normal. Não devia ser normal um dirigente do Benfica dizer que determinado árbitro não devia arbitrar mais, como não devia ser normal que esse árbitro, no dia seguinte, peça licença por tempo indeterminado. Como não é normal que no canal desse clube se tenham proferido afirmações dignas de uma tasca (com todo o respeito que as tascas me merecem).
Assim como não é normal a reação descabelada, irada e totalmente desproporcionada dos responsáveis do Sporting de Braga, no dia seguinte, por muitas razões de queixa que julguem ter.
Para que não se fiquem a rir, devo dizer que as reações dos responsáveis portistas e sportinguistas, aparentemente plenas de bom senso, apenas o foram porque ganharam, já que contrastam com muitas que os mesmos clubes tiveram num passado bem recente, onde também se atiraram às arbitragens com doses cavalares. Também esses clubes têm canais televisivos onde em alguns programas se usam termos como aqueles da Benfica TV, pelo que as lágrimas de crocodilo que agora vertem valem o que valem, isto é, zero.
Para juntar à depressão, junte-se as assistências nos dois jogos. Faz-se uma final-four para que num jogo em que entra a equipa "da casa" e um outro dos maiores clubes portugueses tenha uns míseros dez mil espectadores? É assim que se prestigia uma competição?
Para terem uma ideia do ridículo que isto representa, vou acabar voltando ao início da minha crónica, àquele jogo já esquecido de 6 de agosto de 2018. Contra o Tondela. Em férias. Com muitos vitorianos fora de Guimarães. Numa competição que nunca nos sorriu. Na fase mais precoce dessa competição. Assistência? 15 593 espectadores. Estamos esclarecidos?