PONTAPÉ PARA A CLÍNICA - Um artigo de opinião de José João Torrinha.
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1 Na sexta-feira à noite o telemóvel mostrava-me a mensagem de um amigo, vinda de Famalicão: "Como continuo a acreditar... aqui estou". Tem sido este comprometimento e esta fé inabalável por parte de muitos vitorianos a permitir que, neste estranho início de campeonato, o Vitória se esteja a aguentar, apesar das adversidades.
O exército vitoriano empolga nas bancadas do Afonso Henriques e transforma os jogos fora em jogos caseiros.
A equipa, essa, viaja num carrossel de altos e baixos, tentando lidar com os múltiplos pedregulhos que lhe vão aparecendo pelo caminho. Em Famalicão esteve longe de fazer um jogo famoso, mas ao contrário de outros em que belas exibições não deram para ganhar, desta vez chegou para somar três importantes pontos. É assim o futebol.
Foi uma vitória fundamental para estabilizar a equipa. Vem aí uma paragem para o campeonato que importa aproveitar para serenar os ânimos, repor os níveis de confiança e preparar tudo para somarmos mais um triunfo na receção ao Marítimo. De resto, só mesmo um estado de espírito abalado pode explicar os erros individuais que nos têm assolado e que na sexta quase nos desgraçavam outra vez.
Não há razões para a equipa estar a jogar sobre semelhantes brasas. Os jogadores têm que se convencer que têm qualidade e que, continuando a trabalhar bem, os resultados vão aparecer com naturalidade.
2 O jogo de sexta marcou ainda a estreia de um árbitro estrangeiro a apitar o nosso Vitória. Analisado o trabalho do juiz, apetece dizer aos responsáveis do nosso futebol que, se é para isto, mais vale acabar com semelhantes experimentalismos. Muita intervenção, demasiada procura por protagonismo, arrogância com os jogadores, faltas marcadas a eito, cartões a saltarem do bolso, um livre indireto anedótico apontado contra nós e quatro míseros minutos adicionados no final. Tudo a dar razão à cantiga popular: "para melhor está bem, está bem. Para pior já basta assim."
3 Esta semana foram votadas e aprovadas as contas da SAD. Um resultado negativo acima dos oito milhões que nos deve preocupar a todos. Porque se é verdade que a pandemia retirou receitas que ajudam a explicar os números, o aumento de despesa que se verificou em determinadas rubricas (com os custos com pessoal à cabeça) revela que não só não foram tomadas medidas de contenção que permitissem fazer face a essa perda de receita, como se seguiu o caminho oposto.
De resto, o acenar com uma putativa transferência futura que ajude ao nosso equilíbrio não abranda a nossa preocupação. E isto é assim não só pelas contingências a que tais negócios sempre estão sujeitos (e que ninguém controla) como pelo facto de o Vitória não ter conseguido, nos tempos mais recentes, fazer as tais vendas que ajudassem a manter o barco à tona. Nenhum vitoriano gosta de ver sair os seus ídolos, mas todos percebem que ou fazemos encaixes significativos com a venda de jogadores ou arriscamo-nos a comprometer seriamente a nossa saúde financeira.