"Vitória partiu para esta época quase como se fosse um treinador à experiência"
TÁTICA DO PROFESSOR - Jesualdo Ferreira, na sua crónica de hoje em O JOGO, aborda a saída de Rui Vitória do comando técnico do Benfica.
Corpo do artigo
1 - Tenho uma série de interrogações em relação ao momento que o Benfica está a viver, ao plano que o Benfica terá para o futuro imediato, à vantagem da opção que fez de mudar de treinador, assim como tenho algumas dúvidas em relação ao sucesso desta decisão - a de despedir Rui Vitória. Esta é a notícia, é sobre o despedimento que mais se falará nos próximos tempos.
Os rivais FC Porto e Sporting não deixarão de aproveitar a fragilidade do Benfica provocada pela mudança de treinador
Apetece dizer que, depois de muito ter feito, Rui Vitória partiu para esta época quase como se fosse um treinador à experiência. O que o Benfica tem de reter de Rui Vitória é que, num contexto difícil como é o início de uma época, garantiu o encaixe de 42 milhões de euros, com o apuramento para a fase de grupos da Champions, depois de ter alcançado quatro vitórias, ainda numa altura em que estava a construir a equipa, na qual me parece ter havido um claro desinvestimento.
O que o Benfica tem de reter é que Rui Vitória conquistou dois campeonatos, depois de Jorge Jesus, e também num contexto difícil, inicialmente. Ao todo, conquistou seis títulos, para além de ter apostado em jovens valores, e alguns deles a provocarem um confortável encaixe financeiro para os cofres do clube.
2 - Estão 57 pontos em disputa até ao final do campeonato. Uma decisão destas - a do despedimento - em fase tão adiantada da época não me parece uma boa ideia, a não ser que o Benfica tenha um plano B, e que o tenha muito bem escondido, porque não é isso que parece pelas muitas notícias que vou lendo sobre o assunto.
A aposta num interino ainda jovem, como Bruno Lage, não pode ser uma solução para o resto da época, até ser encontrado o Messias que vai levar o Benfica de volta ao reino das vitórias. Mas, como disse, estão 57 pontos em disputa e às vezes fica-se com a sensação de que o Benfica já desistiu de vencer o campeonato.
Claro que não é assim, mas é um facto que esta fragilidade do Benfica dá alento ao Sporting, que está a ter um bom comportamento, e muito mais ao FC Porto, que lidera com classe e já com uma vantagem para o Benfica que, no mínimo, é confortável. Nem um nem outro dos rivais deixarão de tentar aproveitar eventuais deslizes do Benfica, provocados por esta indefinição no comando técnico, ainda mais quando temos um calendário superapertado neste mês de janeiro.
3 - Também por isso, por estar o mercado de transferências em aberto, a mudança de treinador não deixará de colocar um problema a quem vier. Parece que o Benfica se vai reforçar, é mais ou menos pacífico que o Benfica precisa de se reforçar, e os reforços dificilmente serão aqueles que o novo treinador há de achar necessários, porque não há tempo.
Não tenho a possibilidade de ver todos os jogos do campeonato português, mas do que vi fico com essa sensação, de que o Benfica precisa de ir ao mercado para enfrentar o resto da temporada. Não sei, sinceramente, como disse no início, se esta opção de mudar de treinador nesta altura da época não vai trazer um amargo de boca ao Benfica, acredito que se esteja em busca de uma solução milagrosa, mas o tempo urge e o contexto não me parece o mais favorável. Nem para o clube, nem para os jogadores, nem para o jovem que hoje se vai sentar a orientar a equipa no jogo com o Rio Ave.