Passar de uma média de um golo a cada quatro remates para um a cada 15 talvez seja o tipo de fenómeno que põe um homem a procurar o professor Kabinda na lista telefónica.
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Quando dependemos das ações dos onze indivíduos que estão a correr lá dentro, a palavra-chave que domina as nossas vidas é a sorte.
Alguns chamar-lhe-ão fé e trocarão a gabardina fetiche ou as trousses de 1986 por uma caminhada até Fátima ou um rosário no bolso direito das calças, mas o princípio é o mesmo. Sérgio Conceição pode desconfiar da sorte, se quiser dar-lhe esse nome.
Da primeira Taça de Portugal perdida, em 2015, a ganhar 2-0 aos 84 minutos contra 10 jogadores, até à Taça da Liga que fugiu por causa de um penálti pateta de Oliver no fim de um jogo enterrado, passando pelo domínio canhestro de um dos elementos mais técnicos da equipa (Corona) que lhe deve ter custado "só" as meias-finais da Liga dos Campeões, Conceição tem motivos para desconfiar do mau-olhado. Passar de uma média de um golo a cada quatro remates, bastante sólida nas três primeiras épocas de Champions, para um golo a cada 15 remates (ao mesmo tempo em que, no campeonato, está a ter a eficácia mais alta de sempre) talvez seja o tipo de fenómeno que põe um homem a procurar o professor Kabinda na lista telefónica.
Até Jorge Jesus, ontem com direito a uma inédita banda sonora de assobios, talvez estivesse agora viver a glória plena se, no dérbi com o Sporting, uma bola ou outra tivessem divergido um palmo. Não mudaria o (mau) futebol jogado, mas Sérgio Conceição trocaria num milésimo de segundo os quatro grandes jogos e meio realizados nesta Liga dos Campeões por um golo caído do céu, às quatro tabelas, que lhe desse os "oitavos". Na semana em que a Operação Prolongamento juntou a Bruxa de Matosinhos ao General Nhaga, ficamos com uma certeza: seja lá o que a coisa for (sorte, fé, destino, ventura), tem sentido de humor.