Só o empresário testa-de-ferro é comum ao mundo da bola. O resto deste enredo tem mais a ver com a procura de influência na corte
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Sócrates, BPN, EDP, Portugal Telecom, Banco Espírito Santo, Operação Monte Branco, os submarinos, caso Freeport (e demasiados etcéteras). Só um paladar requintadíssimo pode passar tudo isto e lembrar-se de que há pessoas desaconselháveis só quando aparecem escândalos no futebol.
São sobretudo jornalistas e comentadores de política os que conseguem isolar uma parte de uma sociedade tão corrupta e decidir que "estes são os maus", sabendo que resultaram prejuízos infinitamente maiores para os cidadãos do relacionamento entre o Estado e várias outras áreas da economia.
Sem surpresa, foi para isso que serviu (por agora) o caso Luís Filipe Vieira, vulgo Cartão Vermelho. Em mais de um artigo (escrito por quem esperava, desde a infância, a vingança pela Abelha Maia perdida para um jogo da Seleção na tevê da sala), é usado o plural para sublinhar "os presidentes" de clubes que usam o lugar para saquear a Banca e o País.
Qual é o outro exemplo, para além de Vieira? Este presidente do Benfica equipara-se a quem no futebol, em termos de influência que cultivou e benefício pessoal que tirou dela? Vieira está bem mais próximo de outros modelos, vindos dos partidos políticos e que saíram deles para fundar bancos ou dirigir empresas de telecomunicações e monopólios da energia.
Se é verdade que está presente, neste enredo, o habitual empresário marioneta que serviria para desviar comissões de transferências (e que abunda, de facto, no futebol com impunidade sobrenatural), tudo o resto é uma história de aproximação ao poder e de aproveitamento dessa proximidade. Não vi citar nenhum caso sequer remotamente parecido, porque ele não existe - e escrevi muitas vezes sobre as ambições do Vieirismo ao longo dos anos.
A biografia de Vieira, o homem que queria uma universidade e que contratou três dos maiores gabinetes de advogados do país para branquear os e-mails, não responsabiliza o futebol: primeiro, responsabiliza o poder, que o acolheu - desculpem-me a indelicadeza, mas também sou um bocadinho do futebol - de pernas abertas.