A JOGAR FORA - Um artigo de opinião de Jaime Cancella de Abreu
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1 As meias-finais da Taça de Portugal jogam-se a duas mãos há precisamente 17 épocas, mas bastou o Benfica ter uma de fácil apuramento para de imediato se levantar a questão do desequilíbrio competitivo e do excesso de jogos do calendário. Façam, então, como em Inglaterra, façam com que se disputem em campo neutro, não faz sentido que em fase tão decisiva da prova um clube seja beneficiado com o fator casa.
2 Não se descortina motivo nem maneira de a final da Taça não se jogar no Jamor, inclusive porque será disputada entre dois clubes sediados em Lisboa. É ali que a festa do futebol tem que ter lugar, mas já vai sendo hora de dotarem o Estádio Nacional de maior lotação, melhores infraestruturas e acessibilidades, maiores comodidades, melhor segurança.
3 A UEFA e a FIFA escondem das transmissões televisivas tudo o que possa ser negativo para o jogo – e percebe-se porquê: não querem contribuir para a promoção de comportamentos nocivos ao espetáculo desportivo mais popular do mundo. Por cá, à falta de melhor, assim que se soube que a final da Taça iria ser disputada entre Benfica e Sporting, logo trataram de relembrar e enfatizar o vergonhoso episódio do very light da última final disputada entre os dois clubes.
4 O FC Porto deixou de ser a equipa portuguesa mais castigada pelo Benfica esta época: sofreu oito golos em dois jogos, o Tirsense nove!
5 Bruno Lage não foi de finuras nem rodeios: ao responder com uma pergunta de fazer corar de vergonha o jornalista que acabara de o interrogar, deu uma lição de como contra-atacar com eficácia, driblando, qual Chalana nos seus melhores dias, aquela pergunta fora de contexto. Mas é bom que o treinador do Benfica esteja preparado para a “vingança” da corporação, que não gosta de ser afrontada – lembram-se do que se passou com Roger Schmidt?
6 Em Guimarães, vivi – sem outro remédio – a dispensável experiência de passar infindáveis minutos no meio de um “espetáculo” de pirotecnia. Na quarta-feira, na Catedral, ouvi, com indignação, sons e palavras de ordem alusivas ao very light da final de 1996. Entretanto, havíamos tomado conhecimento de um castigo, mais um, da UEFA: o Benfica jogará sem adeptos na próxima deslocação europeia. Não é de admirar, o que é de admirar é que tudo isto continue a passar-se sem que o clube encontre com as autoridades a forma de colocar um ponto final nos comportamentos de uma pequeníssima minoria que obriga justos a envergonharem-se por pecadores.
7 Vejo com agrado e orgulho os empréstimos obrigacionistas do Benfica serem bem-sucedidos, com procura bem maior que a oferta, é um bom sinal, um bom sinal de confiança que o mercado nos dá; preocupa-me, contudo, que o Benfica não tome medidas de gestão tendentes à firme redução do seu endividamento.
8 Dou os meus mais sinceros parabéns ao doutor Varandas: no seu público exercício motivacional para equipa técnica, jogadores e adeptos, conseguiu esta coisa absolutamente inédita: não fazer qualquer referência ao maior de Portugal.