PONTAPÉ PARA A CLÍNICA - Temos de errar menos e de tomar sempre as melhores decisões. Isso não aconteceu nos últimos dois jogos.
Corpo do artigo
Uma vez um amigo colocou-me uma questão curiosa: se era possível um jogador ser pouco dotado intelectualmente e, ao mesmo tempo, dentro do campo, ser aquilo que se chama um jogador inteligente. À primeira vista diria que não, devo ter respondido. De imediato ele me contrariou, dando o exemplo de um antigo craque do nosso clube que conhecia pessoalmente e que, reza a história, possuía as duas características.
A inteligência a jogar é coisa que não se treina. Ou se tem, ou não se tem. E quando assistimos a um jogo percebemos bem que há jogadores que podem ser melhores ou piores tecnicamente, mas que sabem bem o que fazer em cada momento do jogo, tomando quase sempre as melhores decisões. Ver um desses a jogar é um regalo. Já assistir, jogo após jogo, a jogadores que têm tudo para ser craques e que depois lhes falta a tal inteligência é um suplício. E há muitos destes.
Mas se a inteligência individual é o que é, a coletiva pode e deve ser trabalhada. A inteligência de uma equipa não pode ser a mera soma de 11 inteligências individuais. Treina-se, prepara-se, executa-se.
Foi isso que nos faltou nos últimos dois jogos. Percebermos, enquanto equipa, que quando se apanha pela frente um adversário como o Rio Ave, repleto de setas velozes apontadas à nossa baliza, temos de ter uma postura cautelosa para não alimentar essa vertigem ofensiva que existe do outro lado. Já contra o Farense, a ganhar o jogo e com um jogador a mais, outra vez nos faltou essa inteligência de fazer circular a bola, de a guardar para nós, como um miúdo possessivo, porque por mais que os algarvios corressem, funcionaria sempre a metáfora da manta curta: se quisessem tapar a cabeça, deixariam os pés de fora.
Foi esta incompreensão perante os jogos que nos deixou à mercê de erros individuais que acabaram por nos levar à perda de cinco pontos. Cinco pontos que nos levariam a Paços de Ferreira com dois de vantagem sobre os castores. Assim, chegamos à capital do móvel na contingência de ter de ganhar para ficarmos em igualdade pontual e com o espetro de uma diferença bem cavada em caso de derrota.
É tempo, por isso, de se ser inteligente. Nos jogos anteriores, perdemos pontos contra equipas que são claramente piores do que nós. O Paços é outra loiça. Percebamos isso. Mas entendamos também que os podemos perfeitamente bater se jogarmos o que sabemos. Na primeira volta, a sorte bafejou-nos com os três pontos, graças (lá está) a uma abordagem pouco inteligente de um adversário. Agora vai ser preciso fazer mais. As boas notícias? Que esta equipa que vai entrar na Mata Real é muito melhor do que aquela que outrora os recebeu no D.Afonso Henriques. Estamos melhores e temos condições de ser melhores no relvado. Temos é de errar menos e de tomar sempre as melhores decisões. Está na hora de sermos coletivamente inteligentes.