PONTAPÉ PARA A CLÍNICA - Uma opinião de José João Torrinha
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Querem mais uma prova de que os clubes são incapazes de se autorregularem e de que qualquer reforma no nosso futebol profissional só verá a luz do dia se for feita de cima para baixo? Na sexta-feira passada, a Assembleia Geral da Liga Portugal aprovou uma alteração ao Regulamento de Competições, permitindo que os treinadores promovidos (da Liga 2 à primeira Liga e da Liga 3 à Liga 2) possam trabalhar em qualquer clube no novo escalão, ainda que sem o curso necessário para esse mesmo nível.
Mesmo numa decisão óbvia, justa e sobre amendoins, não houve uma maioria de votos favoráveis
No regime anterior, recorde-se, só o podiam fazer se continuassem nos conjuntos com os quais tinham subido de divisão. A proposta tinha sido apresentada pelo Vitória e subscrita por mais 16 outros emblemas. Claro que a ideia vitoriana tinha o seu lado “egoísta”, pois, como sabemos, a nova redação do artigo alterado permitirá que Luís Pinto (recém-subido com o Tondela) se possa sentar no banco vimaranense como treinador principal (ele, que ainda não concluiu o famigerado nível IV, o qual está a frequentar).
Não é, contudo, caso único: Vasco Botelho da Costa subiu o Alverca e vai sentar-se no banco do Moreirense.Já aqui escrevi sobre o quão bizantino é este regime. Não há qualquer interesse público que justifique esta restrição à liberdade de os treinadores exercerem a sua profissão e de os clubes contratarem quem muito bem entendem para o cargo de treinador principal. Só mesmo um corporativismo aditivado justifica tal regime. Mas mesmo o presidente da ANTF reconheceu que as alterações decididas na sexta fazem sentido.
Aqui chegados, o leitor interroga-se: mas então porque é que se começou por dizer que o ocorrido demonstra o estado do futebol luso? É que, mesmo uma alteração que não altera quase nada, que é do mais puro bom senso e que não mereceu oposição da estrutura que representa os visados, terá sido aprovada apenas com 15 votos a favor, 17 abstenções e 4 votos contra. Ou seja, mesmo numa decisão óbvia, justa e sobre amendoins, não houve uma maioria de votos favoráveis.
Olhando para a lista dos proponentes, presume-se que, por exemplo, os três DDT do futebol português não tenham votado favoravelmente. Recorde-se que, recentemente, um deles até foi campeão nacional sem que o seu técnico estivesse devidamente “encartado”. E mesmo assim…Está tudo dito, não está?