Tudo depende da perspetiva. No Porto foi criticado por um chefe de claque; em Lisboa foi posto em causa pela segunda figura da nação portista. E ainda há um alemão a revolucionar a revolução dele.
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Os tempos estão a ser duros para Sérgio Conceição. Começou por descobrir, pela televisão, que o novo treinador do Benfica vai revolucionar o futebol em Portugal e depois foi fustigado em público por ter "deixado" o filho adulto debandar para os Países Baixos, e logo pela iminência parda que Lisboa insiste em tratar como a segunda da nação portista, imediatamente abaixo de Pinto da Costa.
Fernando Madureira é um chefe de claque. Fora da claque, tudo o que ele diz e faz tende a ser repelido pelo portista comum, e no entanto ganhou um estatuto tão desmesurado na mitologia lisboeta que o acham, ou dizem que acham, capaz de fazer sombra a essa personagem secundária do FC Porto chamada Sérgio Conceição. É um chefe de claque, apenas com um bocadinho mais de direito à liberdade de expressão do que os outros chefes de claque por ter o Correio da Manhã como assessor de Imprensa.
Roger Schmidt é um fenómeno parecido. Desde 2017, há um treinador em Portugal conhecido pela intensidade da sua equipa, pela velocidade de reação à perda de bola, pela pressão implacável que os seus avançados fazem sobre a saída do adversário, pelos ataques rápidos em detrimento da elaboração dos lances, pela procura de variedade das soluções de golo e pela integração permanente dos seus laterais no ataque. Essas ideias permitiram-lhe algum domínio, com três campeonatos a confirmá-lo.
Entretanto, o Benfica acorda, apercebe-se do ocorrido, contrata (bem) um treinador da escola alemã em que o outro assume inspirar-se e, pronto, "revoluciona o futebol em Portugal", dizem pessoas que, claramente, não viram futebol em Portugal nos últimos cinco anos. Ou não sabem o que viram.