Um artigo de opinião de Nuno Correia da Silva
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Os países árabes do Golfo habituaram-nos a cifras milionárias, todos os anos a época de transferências bate um qualquer novo recorde, são milhões que ultrapassam, em muito, os valores pagos na Europa. O “velho” continente, onde o futebol surgiu e onde se transformou em desporto-rei, não consegue acompanhar a capacidade financeira dos novos “apaixonados” pelo futebol.
Ao princípio pareciam situações isoladas, eventualmente em resultado de vaidades que tinham meios abastados para se satisfazerem. Ter o melhor jogador do mundo era testemunho de prestígio e poder, era uma evidência da pujança económica e financeira dos clubes e dos Estados. Todavia, com a aposta continuada no futebol, hoje é possível perceber que é muito mais do que ambição pessoal, é um projeto político que encontrou no futebol um instrumento privilegiado. São países que procuram um lugar de destaque na geopolítica mundial. Querem vencer estigmas que os assombram no designado mundo ocidental e pretendem mostrar que as semelhanças com o ocidente são maiores do que as diferenças.
Em linguagem técnica é o designado “soft power”, ou seja, o uso da cultura, do desporto, do futebol, como instrumento diplomático, construindo uma imagem pública capaz de influenciar outros países sem o uso da força. O plano de desenvolvimento da Arábia Saudita “Vision 2030” pretende diversificar a economia, mostrar outras potencialidades para além do petróleo. A indústria do futebol é um vetor privilegiado, porque com ela vem o turismo, a construção, o marketing, é uma indústria âncora. São boas notícias para quem gosta de futebol e para quem olha para as oportunidades que se criam, sem temer as ameaças. Toda a indústria pode sair a lucrar com a entrada destes países no mundo dos apaixonados pelo futebol. É todo um novo mercado que se abre para os direitos televisivos, para o streaming, para os NFT’s. Um mercado quase virgem nesta dimensão do futebol, mas com uma perspetiva de crescimento que não encontra paralelo em qualquer outro ponto do globo. Tem tudo para “explodir”, tem capacidade económica, tem grandes estrelas do futebol e tem uma paixão que não pára de conquistar adeptos. É uma oportunidade que pode ser aproveitada pelos clubes portugueses, assim o saibam fazer.