PONTAPÉ PARA A CLÍNICA - Artigo de opinião de José João Torrinha.
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1 A renovação de André Almeida até 2023 é um gesto para ser lido em três dimensões. Em primeiro lugar, é um voto de confiança no jogador e o reconhecimento do seu bom trabalho.
Numa segunda dimensão, é uma mensagem para dentro: todos os jovens jogadores do Vitória podem registar que este é um clube que aposta na juventude e que o sabe reconhecer, quando esta mostra valor.
Finalmente, é um sinal para fora: quem quiser contratar o jogador terá que pagar o seu justo valor. O Vitória não corta as pernas a ninguém, mas quem quer levar artigo de qualidade tem que pagar o preço justo.
Assinado o contrato, resta aos destinatários da mensagem agir em conformidade: o jogador que continue a evoluir e a assumir cada vez mais um estatuto de líder dentro do campo. Os restantes jovens jogadores do plantel que continuem a trabalhar a 200% e a demonstrar a sua qualidade e vontade de crescer. Os emblemas que o cobiçam, se quiserem mesmo vir a contar com o jogador, que se ponham a pau e se cheguem à frente com valores que se vejam.
2 Já aqui falei muitas vezes da estatística e de como ela, sendo importante, cede sempre à ditadura dos resultados. Olhamos para os números do Vitória e até esfregamos os olhos, não fosse ela estar errada. A quarta equipa mais rematadora da época; a que mais cruza; a que mais cantos conquista; a terceira que mais vezes entra com a bola na área contrária e no entanto... a única que ainda não molhou a sopa.
Esperemos que se trate de um fenómeno conjuntural e que quando o ketchup começar a sair, saia em quantidade. Em qualquer caso, ainda faltam longos dias para o fecho do mercado e até lá não me espantaria se viéssemos a reforçar o nosso poder de fogo.
3 O que se espera de um líder? Que lidere, passe o pleonasmo. E o que é liderar? Saber o que se quer. Estabelecer metas e métodos para lá chegar. Não ceder perante as adversidades e injustiças. Ser resiliente e dar o exemplo.
Lemos as declarações de Pedro Proença acerca da questão do cartão do adepto e registamos tudo o que um líder não deve ser. Recorde-se que o presidente da Liga, confrontado com o assunto, disse: "É uma imposição legal e que a Liga está a cumprir, uma normativa imposta pelo Governo. Sabemos de antemão os inconvenientes que o cartão tem e, em devida altura, já colocamos as nossas questões, mas vamos todos ter de nos habituar."
Nenhuma posição de fundo sobre a questão ("colocamos as nossas questões"), nenhuma avaliação séria sobre o ocorrido até agora ("sabemos os inconvenientes que o cartão tem") e um total baixar de braços resumido na perfeição na frase "vamos todos ter de nos habituar".
Se ao logo da história os líderes mundiais tivessem sido como o presidente da Liga, o mundo em que vivemos seria seguramente um sítio muito mais injusto e pior para se viver.