PONTAPÉ PARA A CLÍNICA - Uma opinião de José João Torrinha
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A minha casa dista cerca de quinze/vinte minutos a pé do Estádio D. Afonso Henriques. Pois ontem, quando saí para o Estádio, estavam carros com vitorianos que iam ao jogo a estacionar na minha rua, algo poucas vezes visto. Pelo caminho, cartazes nas lojas anunciavam já a incursão ao estádio da Luz na próxima semana. No D. Afonso Henriques, quase vinte e dois mil vitorianos disseram presente.
Se há coisa que já se provou este ano é que esta equipa, mesmo quando cai, consegue levantar-se mais forte.
No meu clube, quando se estabelece uma corrente de confiança entre adeptos e equipa, é muito difícil que nos consigam vergar. A questão é que ontem, paradoxalmente, não se sentiu essa corrente a fluir de forma clara. Apesar dos números nas bancadas, parecia que todos, equipa e adeptos, estavam com graus de ansiedade demasiado elevados. Sentia-se a ansiedade no ar.
A sensação que dava é que todos estavam à espera do nosso golo para que a corrente pudesse finalmente fluir. O problema é que, apesar do nosso domínio, esse golo nunca chegou. E quando o golo não surge e os minutos vão passando, instala-se o chamado "medo cénico" e começamos a descrer nas nossas capacidades e a tomar decisões cada vez mais precipitadas.
No jogo contra o Braga, quando os rivais reduziram a desvantagem já perto do fim do jogo, comentei com quem se encontrava junto a mim: "Connosco é sempre assim. Temos sempre que sofrer. Nada é fácil. Tudo tem que ser sofrido." Essa tem sido, de há muito tempo (desde sempre?) a nossa segunda pele. Uma fé inquebrantável nas nossas capacidades, mas uma fé sofredora, em que a dádiva ao clube (constante, apaixonada, sem concessões, às vezes quase asfixiante) é tantas vezes correspondida com desilusões.
Assim vai continuar a ser este ano. Nas vésperas do jogo de ontem, olhando para a tabela classificativa, pensando-se numa mais do que natural vitória, poderia imaginar-se um resto de campeonato tranquilo rumo ao quinto lugar. Não vai ser assim. Vamos ter que cerrar os dentes e lutar com todas as nossas forças até à última gota de suor. Como eu dizia, as coisas para nós nunca são fáceis.
Dito isto, há que acreditar. Há que manter a fé. Sabíamos que a série de jogos sem perder haveria que ter um fim. E se há coisa que já se provou este ano é que esta equipa, mesmo quando cai, consegue levantar-se mais forte. Eu acredito que assim vai voltar a ser.