HÁ BOLA EM MARTE - Opinião de Gil Nunes
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Com asas partidas também se voa
Diz a experiência que nunca se sabe qual o jogo mais importante da temporada. Na época passada, frente ao Estoril, o FC Porto deu uma demonstração cabal de força ao recuperar em meia parte uma desvantagem de dois golos, ganhando um embalo emocional que se revelaria decisivo. Fintar o imponderável e sair do estreito labirinto com um sorriso.
Frente ao Sporting o contexto é difícil mas ao mesmo tempo desafiante e uma oportunidade única. Para campeões. Uma eventual vitória do FC Porto representará mais do que três pontos. Porque será sempre uma vitória sem o determinante Otávio - uma imensidão de jogadores dentro de um só elemento - e sem Evanilson - fundamental na agressividade da linha dianteira, reação à perda e trabalho como pivô.
Já o Sporting pensa de forma diferente: tudo o que vier de momento será um extra mas nunca a prioridade: preparação da próxima temporada. Com juventude potenciada e um modelo de jogo assimilado. E com um meio-campo mais organizado, sobretudo a defender. Enquanto houver estrada para andar, Amorim vai continuar.
João Mário determinante
É sempre mais fácil transformar um ala em lateral mas sejamos francos: dá um trabalho "dos diabos". E Sérgio Conceição não se teria dado a tal se não reconhecesse em João Mário competências assinaláveis. A preponderância de João Mário na dinâmica ofensiva portista tem sido determinante nas últimas partidas: frente a Vizela, Marítimo e Académico de Viseu, foram as suas arrancadas pelo lado direito e o consequente arrastamento dos adversários que provocaram o espaço necessário para as brechas aparecerem no miolo. Numa temporada em que o FC Porto se mecaniza para fintar a criatividade, a boa forma de João Mário é a melhor notícia do mundo.
Bruma, será desta?
O talento é indiscutível e o percurso, até ao momento, podia ter sido mais exuberante. Mas tudo bem: aos 28 anos ainda vai a tempo. E no Braga pode encontrar a estabilidade e a competitividade necessária para crescer. Mais cómodo a atuar pelo flanco esquerdo, a capacidade de desequilíbrio de Bruma fez-se sentir no seu jogo de estreia diante do Famalicão: nos dois golos que marcou, captou a atenção de vários defesas e, de forma indireta, originou o espaço necessário para o golo aparecer. Num Braga que necessitava de um acréscimo de talento e uma maior exploração dos corredores, o aparecimento de Bruma é fundamental. Desafio e dúvida: manter a estabilidade exibicional.
Tiago Santos, uma revelação
Com apenas 20 anos e uma margem de progressão interessante, o lateral Tiago Santos tem sido uma das revelações da temporada. Se no golo do empate do Estoril diante do Boavista foi o responsável por um preciso cruzamento longo, é na exploração das zonas interiores - quase como se fosse um médio - que a competência de Tiago Santos mais se evidencia. Rápido e nunca precipitado com a bola nos pés, sabe recuperar e cortar em conformidade sem comprometer. Apesar de, frente ao Boavista, Yusupha ter cabeceado no espaço deixado vago por Tiago Santos e por Mexer, o potencial está lá e a regularidade também. Um caso a seguir.
Schmidt e o imponderável
Mais do que a eliminação da Taça frente ao Braga, o jogo teve uma novidade para Schmidt: o imponderável (expulsão de Bah) e como tomar uma decisão em segundos? O técnico alemão trocou Guedes por Gilberto e não foi feliz, mexendo a peça errada. Será que há dias assim ou a reação rápida é um dos seus pontos fracos?