À margem da ansiedade do Portugal-Macedónia de amanhã, o facto é que o Catar"2022 tem tudo para não ser um festival de futebol que compense os transtornos a que obriga.
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Lá para novembro, não sei se o apuramento para o Mundial do Catar parecerá tão convidativo como agora. Várias seleções, como a inglesa, terão o mais curto tempo de preparação de sempre, porque os campeonatos só poderão ser interrompidos quase em cima do arranque.
Os selecionadores estão aos saltos de júbilo. Também é o primeiro mundial sénior jogado naquelas condições particulares da península arábica (e por alguma razão será).
Já antevejo procissões de climatologistas a detalharem em todos os telejornais os efeitos da secura do deserto nas glândulas endócrinas, seguidas de cortejos de especialistas em ar condicionado (o Cristiano Ronaldo dos ares condicionados, afirma o Catar) quando se der um surto de amigdalites na Seleção (não será boa ideia juntar ao staff um técnico da Whirlpool?). Vi acontecer, em pessoa, com a humidade trágica de Macau, em 2002 ( para os utilizadores de óculos) e, outra vez, com as temperaturas do Brasil (2014), mas então a partir do fresquinho da redação. A Seleção é muito achacada a correntes de ar e à falta delas.
E enquanto não chegarmos a esse momento da tradicional correlação entre termómetro, pressão atmosférica e resultados, as Ligas nacionais estarão a arrancar cabelos com as consequências desta agressão aos calendários. Mesmo nas ultraorganizadas Bundesliga e Premier League, eles são um problema até quando não há intervalos para ir ali jogar um Mundial. O que nos leva à verdade desportiva: enquanto algumas seleções terão margem para os períodos de preparação habituais, a maioria estará sujeita à lei do possível. E ainda não falei da UEFA, que terá de concentrar os jogos da Liga dos Campeões e da Liga Europa em menos um mês. Ou seja, jogadores desgastados por dois jogos semanais a partir de setembro, sem vislumbre de tempo para treinar com as seleções: um Mundial que apetece mesmo ver e, depreendo, jogar.