Vitória do Watford sobre o Arsenal fez disparar os adjetivos dedicados a Marco Silva
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"Marco Silva is Mourinho with good behaviour" - traduzido dá qualquer coisa como: "Marco Silva é um Mourinho bem-comportado." Foi um dos muitos elogios que, ontem, o treinador recolheu em Inglaterra depois da histórica vitória do Watford sobre o Arsenal (coisa que, em casa, já não acontecia desde 1987) e que permitiu à equipa subir a um inesperado quarto lugar da Premier League. Resumindo: Marco deixou saudades nos adeptos do Hull, apesar de não ter evitado a descida, tem os do Watford na mão e tem também muitos de outros emblemas a salivar de entusiasmo com a hipótese de o ver, num futuro próximo, no banco das respetivas equipas. "Quando é que o Arsenal o põe no lugar de Wenger?", questionavam, algures entre o desânimo e o tributo, apoiantes dos gunners no final do jogo. É fácil comprovar isto: basta uma pesquisa no Twitter com o nome de Marco Silva e, depois, algum tempo livre para ler o extenso rol de elogios.
Talvez impressione mais ainda que o português vá subindo nesse ranking da consideração sem recurso a espalhafatos; sem ceder à tentação de frases e/ou comportamentos bombásticos, mesmo depois de ter sido recebido por comentadores desconfiados e alguns enxovalhos públicos.
Não sejamos ingénuos: os ingleses adoram cabidelas de Imprensa, e adoraram por isso a ousadia de Mourinho a sacudir a poeira quando aterrou em Inglaterra, mas Marco Silva tem sido a prova de que o bom comportamento, se aliado ao talento, também traz recompensas. Aliás, pode ser até uma boa estratégia, porque, ironicamente, à boleia desse quase enternecedor entusiasmo generalizado pelo "gentleman" Silva, por lá cotado como génio da tática, poucos se atreveram a dar muita importância às dúvidas sobre a legalidade nos lances que originaram os dois golos do Watford.
A narrativa preferida continua a ser a que vê um treinador talentoso, simpático, educado, que vai vergando adversários atrás de adversários e que obriga os tais críticos que o receberam a engolir palavrinha por palavrinha. Quem não percebe o encanto de narrativas assim, e porque funcionam tão bem, nunca passou os olhos pela história da Cinderela e seus derivados. Ou, então, torcia sempre pela madrasta da Cinderela...