Não há maneira mais fria e dolorosa de terminar uma relação do que enviar uma mensagem escrita. No caso de Pinto da Costa e Sérgio Conceição, escrita num livro de contas correntes
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Quem conheceu Pinto da Costa ao longo das últimas décadas já sabia que o livro por ele anunciado há alguns meses não seria exatamente um romance. Aliás, se tivéssemos de encaixar a obra num género literário, talvez novela fosse o mais adequado. Uma novela carregadinha de vítimas e vilões, amores trágicos e ódios de estimação, traições e reviravoltas inesperadas. A propósito das últimas, nenhuma reviravolta é tão inesperada como a que atinge Sérgio Conceição. Sim, é verdade que ao longo dos anos em que Pinto da Costa dirigiu o FC Porto foram inúmeros os casos de amigos do peito que se tornaram inimigos figadais e de inimigos jurados que se tornaram amigos inseparáveis.
De resto, as listas de convidados e excluídos do futuro funeral do antigo presidente do FC Porto refletem isso mesmo. Mas Sérgio Conceição é um caso diferente. Há dezenas de declarações de Pinto da Costa a garantir que Conceição seria sempre o seu treinador, que por ele ficaria no FC Porto até morrer, que olhava para ele, não como um filho, mas como um irmão. Aliás, poucos dias depois das declarações do técnico no final do jogo com o Inter que ditou o afastamento do FC Porto da Liga dos Campeões e que justificaram o “BASTA” sublinhado por Pinto da Costa no livro, o presidente garantia, à saída do Olival, por entre sorrisos e ao som de fado, que os jornais não tinham “categoria para criar uma guerra” que o separasse de Conceição. Pelos vistos, não. Pelos vistos era preciso um livro a responsabilizar o treinador por um par de contratações ruinosas esquecendo todas as que foram mantendo o clube à tona de água, para o conseguir. É obra. Literária, por sinal.