PASSE DE LETRA - Um artigo de opinião de Miguel Pedro
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1 O desporto português vive um momento de profundas mudanças institucionais, marcado por uma intensa reconfiguração de poder na Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), na Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e, mais recentemente, no Comité Olímpico Português (COP). Estas alterações não surgem isoladas, mas sim como resultado de disputas políticas e pessoais que têm vindo a marcar os bastidores do desporto nacional. Mais do que mudanças de cadeiras, pode refletir um novo mapa de alianças e de rivalidades do desporto nacional. Da mesma forma que as velhas alianças no mundo se estão a reconfigurar, também no nosso desporto tal acontece.
A mudança de protagonista na presidência da LPFP é, para mim, uma incógnita, sendo que me preocupa que o vencedor das eleições tenha sido apoiado por Benfica, Sporting e Vitória, tendo o Braga apoiado o vencido. Vamos ver o que o futuro nos reserva. Na FPF, a transição de poder foi tudo menos pacífica. A saída de Fernando Gomes, após mais de uma década à frente da Federação, abriu caminho para uma sucessão conturbada. Proença, que era da Liga e agora é da Federação, viu-se envolvido numa guerra aberta com Gomes, que era da Federação e agora é do Comité Olímpico, sendo um dos episódios mais simbólicos dessa tensão a não eleição de Proença para a UEFA, um resultado que muitos interpretam como consequência direta dessa disputa interna.
O novo presidente acusou o antecessor de boicote e de mobilizar contactos internacionais para travar a sua ascensão, revelando as divisões profundas no seio da estrutura federativa. Este ambiente de constante confronto ilustra um dos maiores entraves ao progresso do desporto em Portugal: as guerras de poder, motivadas pelo simples apego ao poder. Em vez de convergirem para o desenvolvimento sustentado das modalidades, as lideranças muitas vezes movem-se por agendas pessoais, alimentando climas de instabilidade. O futebol, como motor principal do ecossistema desportivo nacional, continua especialmente vulnerável a estas dinâmicas, o que compromete decisões estratégicas, afasta consenso e mina a credibilidade das instituições.
2 O Braga segue o seu percurso com mais uma vitória fora de portas, frente a uma equipa que tem demonstrado muita competência. Vamo-nos habituando a esta forma de jogar da equipa de Carvalhal: muito segura, com muito compromisso e entrega, com posicionamentos táticos que parecem antecipar as jogadas dos adversários, a fazer despontar nos jogadores o seu talento natural. Mais uma vitória justíssima. Até parece fácil…