A JOGAR FORA - Uma opinião de Jaime Cancella de Abreu
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1- A semana do dérbi começou com um clássico: o Ministério Público entrou em campo para fazer sair uma acusação relativa a um jogo que teve lugar há nove anos! Vejam bem: o empresário de Bruno Fernandes, dispondo-se a fazer um frete ao Benfica, tentou pagar 30 mil euros para que Edgar Costa – 20 golos em 269 jogos pelo Marítimo, à linda média de 0,07 golos por jogo! – não rematasse à baliza do Benfica no jogo da penúltima jornada de 2015/16. Jogavam nos insulares Dyego Sousa e Marega, mas o Benfica queria era que o perigosíssimo Edgar Costa não rematasse à sua baliza – grotesco! Nesse jogo, o amigo do Benfica foi o inefável Fábio Veríssimo, que tratou de expulsar Renato Sanches – esse sim, uma pedra basilar do Benfica – aos 37 minutos de jogo.
2- A semana do dérbi continuou com o Sporting a dar tudo para pressionar João Pinheiro: que não, que o único árbitro português da elite da UEFA é, afinal, para eles, o pior dos mais de vinte da nossa primeira categoria, coitado, Deus mandou-o ao mundo com um só objetivo: prejudicar o Sporting. Até Pedro Santana Lopes saiu do anonimato futebolístico para se referir depreciativamente à nomeação do Conselho de Arbitragem.
3- O dérbi, de baixa qualidade, que acabou empatado, não decidiu nada, mas deixou o Sporting em condições privilegiadas para se sagrar campeão, dos dois é o único que depende de si para chegar ao título. Pode ser, porém, que o clima de já-ganhou, que tanto o tem caracterizado ao longo da época, Harder até exibiu o cachecol “Sporting campeão” a semana passada no final do jogo com o Gil Vicente, pode ser que o clima de já-ganhou os deixe de calças na mão.
4- Confesso que esperava que o Benfica colocasse mais dificuldades ao Sporting, porque acredito que Bruno Lage é melhor do que Rui Borges a preparar jogos, a explorar os pontos fracos dos adversários, mas o golo do Trincão nos primeiros minutos do jogo condicionou tudo o resto, fez o Sporting recuar linhas para defender o resultado que lhe dava o título, fez o Sporting em muitos momentos do jogo portar-se como equipa pequena, incluindo jogadores a fazer fita no chão para queimar tempo.
5- Olho, já a caminho de casa, para as estatísticas do jogo, os golos esperados, as grandes oportunidades, as bolas nos ferros, os remates, os cantos, tudo o que tem a ver com a superioridade ofensiva, e tiro a conclusão óbvia e incontestável: o Benfica foi quem mais procurou ganhar o jogo, foi quem mais mereceu ganhar o jogo, foi quem mais lutou para que o espetáculo fosse digno de apurar, ali mesmo, no relvado da Luz, o campeão.
6- Trinta e oito faltas, senhor João Pinheiro? Só porque o jogo foi intenso, e assim deve ser entre duas grandes equipas, justifica-se tanta apitadela? Lá fora não apita assim, ou apita? Já que parou o jogo por tudo e por nada, então porque não assinalou o empurrão com as duas mãos do Debast ao Otamendi, na área do Sporting, na primeira parte? Como foi possível o Hjulmand e o Maxi Araújo terem acabado o jogo sem verem o segundo amarelo? Relativamente às arbitragens, o Benfica prima pelo silêncio, pela inação, desde o princípio da época ninguém dá a cara por um protesto, por uma revolta, por uma indignação. Nisto, que também conta, e de que maneira, no futebolzinho cá do burgo, o Sporting foi mais competente – não, não é uma crítica aos vizinhos da Segunda Circular, é apenas uma constatação.