Do fictício Ted Lasso ao icónico Johan Cruyff
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A autoria da grande frase que dá título a esta crónica é do treinador Luís Castro e é perfeita para salientarmos o importante papel de educador que cada treinador deve ter. A atividade destes profissionais reveste-se de conhecimentos técnicos, mas os mesmos devem, simultaneamente, possuir e saber transmitir valores e cultura.
Não sei se viram a sedutora e divertida série "Ted Lasso" - recomendo vivamente se ainda não o fizeram - onde Ted, um treinador de futebol americano, da liga juvenil, um homem com bigode igual ao do Ned Flanders, natural do Kansas, é contratado para treinar uma equipa da Premier League, sem saber o que é um fora-de-jogo e a achar que cada partida está dividida em quatro partes.
Como educador, o treinador deve estar atento, insistindo-se na importância dos valores humanos, éticos e morais
A verdade é que nessa série, reconfortante como um abraço, vemos que Ted Lasso é um mestre em valores humanos como a ética, o respeito, a humildade, a empatia, o sentido de justiça, a educação, a solidariedade, o altruísmo, a bondade, a confiança, entre muitos outros, afirmando ao bom estilo de Obama, que: "acredita na esperança" e que "acredita em acreditar". Já sei que parecem slogans e que só me falta preconizar que Ted Lasso é que nos salva, mas vejam a série e perceberão que falta faz alguém otimista e de bom carácter (mesmo perante a adversidade e a falha), sobretudo nos tempos sombrios em que vivemos.
Qualquer treinador no papel de líder que interage com a sua equipa tem de conseguir elevar o seu discurso e, na sua comunicação e transmissão de conhecimentos, deve também desenvolver as competências morais e éticas dos atletas. Os atletas não são máquinas, mas sim pessoas que devem ver o treinador como um modelo de virtudes. Exemplo perfeito do que afirmo é o caso do treinador Jorge Braz, eleito o melhor treinador do mundo de futsal. Das múltiplas entrevistas que deu, antes de o ver como um técnico de excelência, que o é, vejo genuinamente uma boa pessoa e isso é também a chave para o sucesso e vitórias.
Como educador, o treinador deve estar atento, insistindo-se na importância dos valores humanos, éticos e morais, com a linguagem "lassófona" da série que referi ou na sua própria, desde que imbuída de bons valores e preocupada com a formação da consciência do atleta e da maneira deste agir e de se relacionar na sociedade.
Para terminar a importância do treinador/educador, partilho a história de um jovem jogador que disse a Johan Cruyff que ia abandonar a escola. Cruyff, imperturbável, terá respondido: "Não há problema. Deixa de estudar". Termina a conversa, dizendo ao seu atleta para aparecer no dia seguinte, às 8 da manhã, sem falta. Quando o jovem aparece no Camp Nou no dia após a conversa, Cruyff ordena-lhe que fosse limpar as chuteiras dos companheiros de equipa e nunca mais o colocou a jogar. Claro que o atleta percebeu toda a linguagem "cruyffiana" e, tendo aprendido a lição, três dias depois, voltou para a escola.
Em suma, na capacitação dos atletas e com funções profissionais cada vez mais completas e exigentes, o treinador não pode nunca esquecer que para além de ensinar a jogar o jogo, deve também ensinar a jogar a vida (desabafo final: como eu gostava de ser o autor desta frase).