PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
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O fator decisivo para uma equipa ganhar um jogo é saber comportar-se com inteligência quando o está a... ganhar.
Isto é, saber ler os sinais mais adversos e agir, taticamente, em conformidade.
O Benfica perdeu essa vantagem nos Açores quando, a ganhar, viu o jogo fugir-lhe (a posse de bola e controlo do meio-campo) sem reagir perante um onze açoriano que, nos quinze minutos iniciais da segunda parte, subiu o meio-campo, pressão e agressividade ofensiva, com Lincoln a "abrir o livro" e os alas a abrir o.... jogo. Cruzamentos e domínio interior face à cristalização encarnada com o meio-campo "taticamente desaparecido em combate" a pedir o auxílio dum "terceiro médio" para repor a ordem. Cada olhar de Jesus para o relvado era uma "sombra". Só quando sofreu o empate, gritou para Pizzi entrar mas já com as ordens (de atacar para ganhar) inversas às que deveria ter se, como o jogo pedia, tivesse entrado mais cedo: segurar/resgatar o controlo do meio-campo.
Em mais um jogo/sintoma da "doença tática do jogo partido", o Benfica empatou um encontro em que o Santa Clara soube reagir apenas respeitando a mais elementar lógica: ocupar melhor o meio-campo, pegar na bola, amassar o terreno em cada... segunda bola e aproveitar o seu momento no jogo. Tudo excessivamente básico.
Porque nada pode ser perfeito
A "geometria" de Al Musrati, a "estrada" de Porro, a "universidade" de Taremi e o... "enigma" dos treinadores no Moreirense.
1 A geometria de passe de Al Musrati iluminava o jogo do Braga com "régua e esquadro", mas quando aquele remate levou a bola ao poste de Adán pressentiu-se que essa precisão falhada por milímetros podia custar o resultado.
O Braga tem um processo tático que sabe tudo sobre o jogo (definição de zonas de pressão e ataque à profundidade) mas existem peças decisivas para a operacionalização total destes desdobramentos alternativos/sincronizados. Nesse sentido, sentiu-se muito a falta do seu melhor "empregado tático" de pressão, trincando a língua a todas as bolas que pulam: Castro. Mesmo parado, parece que continua a correr. Sem ele, a equipa (sua intensidade) baixou muito no corredor central.
Continuo a ver nos centrais (nível individual) o fator menos forte do onze. Sem Tormena (é o melhor, conciliando rapidez e corte) e Carmo (que precisa limar dureza), perdeu a melhor dupla e expôs demais o lado "pesado" que Rolando e Raul Silva já não conseguem disfarçar nestes jogos.
2 O Sporting voltou a ter dificuldades em gerir o jogo. É um problema coletivo mas que tenho tendência a identificar, na raiz e na possibilidade de crescer, no rendimento dum jogador que tem de assumir-se mais nesse papel no "centro do jogo": João Mário. A perspetiva da equipa crescer no coletivo, depende muito do seu crescimento individual (para ativar o "modo de gestão" no jogo quando este ameaça fugir).
Nuno Santos e Pote são o elo final mais direto com o golo, mas o jogo foi ganho, sobretudo, pelo processo defensivo (poste e Adán incluídos), onde Porro "engavetou" Galeno e fez o "jogo completo".
3 É estranho o que se passa com os treinadores no Moreirense. Esta época (de Ricardo Soares a César Peixoto) como nas anteriores. Já percebemos que é um clube difícil para um treinador ter autonomia de ação/decisão sem a direção por perto. É um clube de iniciativa "presidencial-familiar" sem a qual seria impossível existir a este nível, mas tudo isto acaba por se virar contra si próprio. No Dragão, com treinador improvisado, mostrou ter bons jogadores mas, neste momento, sem alma de equipa. Os três centrais aguentaram bem e tentou o contra-ataque.
O FC Porto acabou por sentenciar o jogo perto do fim com a "dupla sombra-suplente" de pontas-de-lança. Toni Martínez (disposto a lutar mesmo sem antes ver como jogar) e Evanilson (que, pelo potencial que tem, precisa dum "curso de aprendizagem" do futebol europeu). Ou seja, Martínez tem de ser menos "fúria", Evanilson tem de ser mais "agressividade de 9". Ao mesmo tempo, Taremi torna-se indiscutível. Vê-lo jogar, para Martínez e Evanilson, é a melhor aula da "universidade do futebol" (técnica-movimentação-remate).