FORA DA CAIXA - A opinião de Joel Neto.
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Vale a pena transformar José Augusto Faria no bode expiatório do machismo reinante no futebol português (e na sociedade portuguesa), se tantos de nós - jogadores, treinadores, árbitros, dirigentes, jornalistas, colunistas, adeptos - o praticam tão apaixonadamente? Vale. Porque foi o treinador do Leixões quem se voluntariou para esse papel. E porque o simbolismo das suas palavras exige uma resposta exemplar.
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Evidentemente, não compro o argumento do Leixões segundo o qual Faria não distinguiu entre homens e mulheres, mas entre as pessoas do futebol e outras. É uma justificação demagógica e cínica, mas mesmo que não o fosse merecia um comentário. Se o que o treinador disse foi que o futebol pertence a quem é do futebol, então talvez não seja machista, mas é ignorante. O futebol pertence a toda a gente. Os seus tentáculos, os bons e os maus, dispersam-se por toda a sociedade portuguesa - e para percebê-la a ela é sempre preciso percebê-lo a ele.
Infelizmente, não é disso que se trata. Faria foi machista mesmo, o que, tendo em conta os seus 34 anos e o facto de estar a começar a carreira (sic), se torna especialmente dececionante. Porque não há nada mais triste do que um homem acabar de nascer e já vir velho e rude.
As "Sofias desta vida", para usar a sua própria expressão, têm realmente muito que aprender. Mas todos nós temos. E, talvez para nossa infelicidade, elas vão aprendê-lo mais depressa. Não vêm viciadas pela testosterona nem pelos ressentimentos acumulados. E o seu discurso sobre futebol não é paranoico nem agressivo: é ponderado, tantas vezes tecnicamente superior e, em média, bastante mais culto.
Eu estou contente por poder vê-las, lê-las e ouvi-las - no Canal 11, no Expresso, em cada vez mais órgãos de comunicação. E, visto que nós falhámos, tenho esperança de que sejam elas a resgatar o mundo do futebol à labreguice.