Na realidade, o FC Porto tem pouco a perder depois de ter perdido quase tudo. Personalidade, exige-se
Corpo do artigo
Não há jogo como este, mesmo nestas circunstâncias. A ideia de que um FC Porto-Benfica é o jogo do ano foi reiterada por André Villas-Boas e essa é uma das premissas quando estamos a lutar pelo título. No contexto actual, materialmente afastados da possibilidade de sermos campeões, que se cumpra a formalidade de encontrar no clássico uma fonte de fogo e fomento. A única forma de podermos chegar ao segundo lugar é mesmo pela perda de pontos dos nossos rivais diretos, pelo que a vitória frente ao Benfica é o único caminho possível para acedermos a algo mais do que o destino de errância que esta época nos parece querer entregar. É esta a última prova de aferição da temporada. A luta com o Braga pelo terceiro lugar é uma prova oral para salvar a nota após um exame prático-catástrofe. E é na prática que as contas se fazem. Perante o calendário, só um Sporting bicampeão nos poderá abrir a possibilidade do segundo lugar. Se o Benfica não perder seis pontos frente a FC Porto e Sporting, só a última posição do pódio estará na nossa disponibilidade.
Martin Anselmi, finalmente após dois triunfos consecutivos na Liga, não esconde ter preparado muito bem o jogo e assume que é para estes jogos que se nasce e se abraça a carreira de treinador. Indiscutivelmente lançado para o momento, só uma vitória trará a crença de que há um caminho. Após a estabilização de Marcano no eixo da defesa a três, talvez o maior fator de arrumação da época, é também com a inteligência posicional de Eustáquio que Anselmi conta para compensar o deficit de liderança que, indiscutivelmente, se faz sentir na equipa. Não se pode depositar no repentismo e génio de Mora a responsabilidade de fazer a diferença no jogo de hoje, sob pena de termos um jogador anulado pela sua importância relativa.
Compete a Fábio Vieira e a Pepê, com a complementaridade de Mora, a assumção do papel principal que a experiência e capacidade lhes atira para o colo. Servir Samu é fundamental, mas não há nenhum jogador que possa jogar sozinho sem que sinta as costas protegidas por quem o serve. A subida de forma e foco de Diogo Costa é uma das mais fundamentais notas de confiança para este último quarto de época. Sabendo que uma defesa a três será mais do que suficientemente testada por um Benfica que quer e pode ser campeão, será quase inevitável que erros surjam, pelo que haverá necessidade de um guarda-redes salvador na retaguarda de uma equipa arrojada, confiante e sem nada a perder. Na realidade, o FC Porto tem pouco a perder depois de ter perdido quase tudo. Personalidade, exige-se.