As remunerações são um tema querido dos árbitros, mas a qualidade do jogo que lhes paga os aumentos não
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Segundo os próprios e fontes próximas, os árbitros portugueses são humanos. Isso significa que estão sujeitos a errar, com certeza, mas também que tendem a indignar-se com o tema das próprias remunerações mais do que com qualquer outro. É um facto. Depois do acordo financeiro com a Liga, acabaram as ameaças de greves e boicotes por causa das "pressões" dos clubes, não sei se repararam.
Mas para haver aumentos de salários, tem de haver produtividade (se a troika diz, é porque sabe) e a dos árbitros pode medir-se, por exemplo, nos rácios de tempo útil de jogo, trazidos à baila nos últimos dias, primeiro por um estudo do Observatório de futebol europeu (CIES) que escala a Liga em quarta a contar do fim, e depois pelas reclamações de Sérgio Conceição na Madeira, corroboradas pelos números.
Ainda que o Marítimo-FC Porto mereça ser revisto com olhos de rever pelo Conselho de Arbitragem, porque houve lá coisas que eu gostaria de ouvir o árbitro Jorge Sousa explicar didaticamente (o Canal 11 já está em cima disso, de certeza), vamos abstrair-nos do caso em particular, para não mancharmos a discussão e, talvez, concordar num ponto. O limite para o antijogo não é a dignidade, nem o caráter, nem a ética: são as regras. E as regras não são aplicadas pelos dirigentes, nem pelos treinadores, nem pelo CA, nem pela Liga.
O antijogo não é só um problema de pobreza de espetáculo. Também leva à intranquilidade dos adeptos pagantes, que, por qualquer razão misteriosa, vale sempre menos do que a intranquilidade dos árbitros recebedores e com projetos de serem ainda mais recebedores a curto prazo. Mas quando chegar a hora dessa negociação, valerá a pena perguntar: e você, onde estava no 25 de abril?
