TÁTICA DO PROFESSOR - O encontro de treinadores da I Liga pode dar um contributo importante para melhorar o futebol português.
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1 - Entrou nas discussões desta semana como se fosse uma grande novidade, mas não é de hoje que acontece. Falo do tempo útil de jogo que, segundo um estudo do Observatório do Futebol, é o pior de toda a Europa em Portugal. Há muitos anos que a intensidade dos jogos do campeonato português é alvo de críticas, por terem demasiadas paragens. E numa primeira análise, uma das razões que levam a esse facto são as arbitragens.
"O árbitro pode realmente ser o responsável por demasiadas paragens, mas está muitas vezes condicionado pelos jogadores e pelas equipas."
Durante muito tempo atribuiu-se culpa exclusiva aos árbitros. Julgo que, hoje, quem está por dentro do futebol sabe que não é assim; é o árbitro quem apita, mas não é ele quem se manda para o chão, às vezes com lesões simuladas, não é ele quem retarda os lançamentos de linha lateral, não é, enfim, o árbitro quem leva o guarda-redes a passar tempo excessivo na reposição de bola (embora as determinações do CA sejam, desde esta época, para punir com um cartão amarelo logo nas primeiras vezes em que isso se verifique).
Quero com isto dizer que o árbitro pode realmente ser o responsável por demasiadas paragens, mas está muitas vezes condicionado pelos jogadores e pelas equipas. É evidente que quanto mais paragens houver, menos tempo útil de jogo há. Lembro-me de que Pedro Henriques era muito criticado por "deixar jogar", como se costuma dizer, mas não seria ele a estar certo?
2 - Outro aspeto tem a ver com questões de jogo, de estratégias que são traçadas pelos treinadores. É normal que uma equipa de menor dimensão se defenda com "bolas para a bancada", principalmente se tiver pela frente uma equipa assumidamente mais poderosa. Pode ser criticável, mas são estratégias que afetam necessariamente a intensidade do jogo.
O Barcelona, não vai muito tempo, era exímio em circular a bola, tinha mais posse e não permitia que houvesse grandes paragens no jogo; tal como se verifica isso nos jogos do Manchester City (por coincidência, o treinador é o mesmo, Pep Guardiola). Tenho a certeza de que os jogos do City têm um tempo útil de jogo acima da média, embora não esteja a servir-me de qualquer estudo para dizer isto. Como acredito igualmente, sem recurso a estudos, que os jogos com FC Porto, Benfica e Sporting têm mais tempo útil.
Ou seja, a questão tem também muito a ver com a qualidade das equipas e dos seus jogadores. De que maneira se pode mudar isto? Bom, talvez venha aí um primeiro contributo.
3 - O diretor técnico nacional, José Couceiro, entendeu por bem reunir os treinadores da I Liga - será no dia 8 de janeiro - para discutir esta questão do tempo útil e também a calendarização das provas. É uma ótima ideia, porque os treinadores são quem mais perto está das questões relacionadas com o jogo em si.
Durante cinco anos estive nos encontros de treinadores de elite da UEFA e saíram de lá conclusões que acabaram por constituir importantes contributos para algumas mudanças em favor do jogo de futebol, das competições, dos jogadores, dos adeptos. Talvez este encontro entre treinadores portugueses possa ajudar a mudar aquilo que está mal, ou aquilo que pode de facto ser melhorado. E oxalá esse encontro resulte e passe a ser frequente.