Tempo de superar Pinto da Costa
Os anos 80 do século passado nunca acabaram e continuam a ser um entrave ridículo a qualquer entendimento no futebol profissional. Nem velho, nem novo, Rui Costa pode ser boa notícia
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Talvez seja impossível separar Pinto da Costa da toxicidade ambiental do futebol nos últimos quarenta anos, e não forçosamente por culpa dele. Começou como um guerrilheiro contra o poder centralista que chegava ao absurdo de repartir a presidência da Federação por três clubes de Lisboa (será assim tão criminoso combater uma tradição dessas?) e acabou como um erróneo modelo de comportamento para os presidentes de Benfica e Sporting.
É tempo de acabarem as exibições de virilidade diante de Pinto da Costa, porque o futebol já só é isso na cabeça dos adeptos mais alienados e dos presidentes mais ansiosos por lhes agradarem. Até Bruno de Carvalho percebeu.
Frederico Varandas ficaria, provavelmente, vexado se consultasse as intervenções de Pinto da Costa do início dos anos 80 do século passado e verificasse as coincidências com o seu próprio discurso. Rui Costa, que não começou ontem como Varandas, pode ser uma rotura saudável nesse ciclo. Benfica e Sporting andam há décadas a tentar decifrar o presidente do FC Porto e a estabelecer comportamentos em função do que acham que ele faz, esforçando-se muito por ignorar que nem ele é o mesmo de 1982.
Fazem-no porque os adeptos gostam, não porque esse raciocínio resista ao mínimo escrutínio. Já não sou capaz de contar as tentativas que o futebol profissional fez para se entender, antes que um penálti ou a escolha de um presidente do Conselho de Arbitragem desse cabo de tudo, mas estamos a chegar a um limite.
Rui Costa teve palavras sensatas, depois da cimeira de presidentes da Liga. É tempo de acabarem as exibições de virilidade diante de Pinto da Costa, porque o futebol já só é isso na cabeça dos adeptos mais alienados e dos presidentes mais ansiosos por lhes agradarem. Até Bruno de Carvalho percebeu.