Vencer a Liga é difícil, pouco provável, mas os últimos anos dizem-nos que já não é aquela galáxia para além do buraco negro.
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"Melhor, só na feira de Espinho", afirmou Carvalhal no final da vitória frente ao Estoril, que garantiu a presença da equipa por si treinada na final four da Taça da Liga.
O atual projeto do SC Braga, liderado por Salvador, necessita destes momentos xamânicos, de celebração comunitária, de integração cada vez mais profunda do clube na comunidade, na cidade e na região.
Lá estarão os quatro melhores plantéis da principal liga portuguesa, que tentarão trazer consigo o primeiro troféu da época. Carvalhal referia-se, com o seu habitual espírito bem-humorado, à circunstância de, chegado o final de 2020, o "mais estranho ano das nossas vidas", o SC Braga estar ativo e bem presente em todas as frentes. E com muito mérito. Carvalhal, que é adepto de longa data do SC Braga (desde sempre, julgo eu), sabe bem da importância que vencer um título tem para um clube como o SC Braga, em franco crescimento e afirmação nacional e internacional. E, das quatro frentes, as "taças" (de Portugal e da Liga), surgem como a hipótese mais palpável para que tal aconteça. Se vencer a Liga Europa é uma "quase miragem" (já lá andámos perto, mas sabemos bem que foi uma espécie de singularidade cosmológica, uma ínfima probabilidade estatística), já vencer a primeira Liga se torna um evento de probabilidade aumentada.
É difícil, pouco provável, mas os últimos anos dizem-nos que vencer um campeonato já não é aquela galáxia para além do buraco negro. Já não é só na Playstation, como disse, certa vez, Jorge Jesus. Mas onde podemos apostar as nossas fichas é em conquistar uma das taças. Fizemo-lo recentemente e temos a caraterística de clube que pode vencer taças: plantel de qualidade, competitivo, muito focado nas suas tarefas técnicas e táticas e um treinador que sabe do assunto. E era bem importante vencer esta época, pelo menos, uma taça.
Desde que Desmond Morris, na década de oitenta do século passado, publicou "a Tribo do Futebol", aproveitando a sua formação de sociobiologia, para fazer uma interessante analogia entre os clubes (os seus adeptos) e as práticas tribais mais ancestrais, que encaramos e percebemos os títulos como o momento de celebração catártica do clube, garantindo, com o processo dialético de vitória e conquista, que o clube ganha mais adeptos para a "tribo" e que garante e reforça a sua inserção na comunidade.
O atual projeto do SC Braga, liderado por Salvador, necessita destes momentos xamânicos, de celebração comunitária, de integração cada vez mais profunda do clube na comunidade, na cidade e na região. É com os títulos, vencendo taças, festejando em conjunto as conquistas, que conseguiremos arregimentar adeptos, motivar decisores locais, atrair empresários, ganhar a cidade e a região. Porque quanto a sermos um clube "grande", já somos desde o início...