PLANETA DO FUTEBOL - A análise de Luís Freitas Lobo.
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1 - As sensações serão mesmo só isso. Uma impressão produzida por algo exterior e transmitida ao cérebro pelos nervos, onde se converte em ideia ou perceção. Terá sido nesse alçapão sensorial precoce que caiu a minha perceção de superior valor atual que esta equipa do Sporting passara em jogos anteriores ao meu cérebro.
Intriga-me Rúben Amorim não ter outra ideia para meter nos jogos quando estes pedem algo diferente. Mário Silva, com o Rio Ave, mostrou isso
Bastou um onze austríaco mais bem oleado taticamente a explorar o momento de recuperação da bola, avançando rápido ao mesmo tempo que o 3x4x3 leonino tentava recuar na mesma velocidade, para ver que ainda falta muito para essas sensações se traduzirem em convicções.
O nível de exigência subiu e o desdobramento tático defensivo do sistema-Amorim caiu pela base. As derrotas em Braga, no plano europeu, mesmo com uma equipa mecanizada, também sucederam assim (revejam jogos com o Rangers). Com menos estrondo, no sentido da queda não ser, como em Alvalade, num poço tático-mental tão fundo no comportamento da equipa em campo, mas com a mesma base.
2 - Gosto da ideia de jogo de Amorim, mas intriga-me não ter outra para meter nos jogos quando estes pedem claramente algo diferente, não só para atacar o adversário mas, sobretudo, para proteger a sua própria equipa.
Este défice de consciência e instinto de proteção (sobrevivência defensiva) tático-competitiva nos jogos é perturbante. Sem isso, tudo passa rapidamente a banal. Ideia, sistema, jogadores. As boas sensações esfumam-se. E as "bruxas más" devoram o futebol feito de ideais que despreza o momento em que está. Uma boa ideia aplicada fora do local e do momento certo rapidamente se torna na pior das ideias. E, assim, o mundo leonino voltou à mais dura realidade de "nuvens negras".
3 - Escrevo ainda sentindo o vento e a chuva no corpo da noite de Vila do Conde (também com "bruxas más futebolísticas" à solta). Nunca, nesse recinto das Caxinas aos Arcos (com memória do peladão da Avenida) imaginei o Milan a entrar em campo ao som do hino do Rio Ave. Não era sonho, era realidade e, no jogo, tornou-se historicamente épico.
Mais do que o plano tático bem montado por Mário Silva (defendendo a "5" e com o decorrer do jogo soltando-se para atacar em 3x4x3) que cercou o Milan até ficar a curtos segundos de o eliminar, o tal "jogo das sensações" que falava no início foi mais forte.
É a derrota mais dura e bonita da história do Rio Ave de muitas que vi na história do futebol. Pode parecer que estou a escrever ainda anestesiado pelo "romantismo futebolístico do final triste", mas não há outra forma de escrever sobre três penáltis falhados que dariam a passagem, com num deles com a bola a bater nos dois postes e andar quase troçando do sonho, pela linha de golo. Surreal.
A baliza não se mexeu
Falando de futebol(sem bruxas más e sensações mentirosas), a forma como o Rio Ave jogou e Mário Silva fez as alterações no momento certo, mostram a diferença com o que Amorim fez (ou, sobretudo, não fez) em Alvalade.
Mário Silva tinha um plano para começar e vários para reagir
Mário Silva tinha um plano para começar o jogo e vários para reagir a ele no decorrer. Geraldes mexeu com a zona de definição criativa, Dala foi o falso nº 9 que tirou o conforto já adquirido pelos centrais italianos em marcar o fixo Bruno Moreira, e Jambor deu novo pulmão de recuperação e saída ao meio-campo. Ser treinador é isto. E, em campo, a equipa com Lucas Piazon a mostrar como se trata bola e espaços (melhorando quando os deixa de ver curtos, como é seu estilo, e faz um passe longo para depois arrancar e ir buscar na frente a tabelinha, essa outra vez curta, criando o golo).
Tenho consciência (podem sossegar) que, ao contrário do que disse no comentário, a baliza não se mexeu naquele penálti cirurgicamente batido ao poste pelo Geraldes. Não me tiram é essa... sensação. Voltemos à realidade.