A última jornada do campeonato foi uma versão reduzida das anteriores: festa do leão com golo de Gyokeres e uma sucessão de objetivos falhados.
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“Esta foi uma equipa que ganhou um campeonato com três treinadores”, atirou, em português para que não restassem dúvidas, Hjulmand no Marquês, na sequência do triunfo que garantiu a conquista do bicampeonato ao Sporting. Na euforia da festa tão desejada pelos leões, um pouco de gelo nórdico – nas palavras, à imagem daquilo que costuma fazer em campo, onde é ordem e âncora. E, naturalmente, voz de um balneário que soube unir-se em torno de um objetivo bem definido e passar sobre percalços que incluíram a perda ou ausência prolongada de jogadores como Nuno Santos, Pote, Bragança ou o promissor João Simões e até um momento de quebra física e de pontaria de Gyokeres. E as trocas de treinadores, claro! Se a saída de Amorim deixou um rasto de orfandade e revolta quase edipiana pela saída daquela figura paternal, e a passagem de João Pereira quase deitava o campeonato a perder (pagou as favas?), Rui Borges teve o mérito de perceber as carências daquele grupo – do conforto do sistema tático de Amorim ao qual teve a perspicácia de regressar, à gestão de egos que, como Ancelotti ensina por qualquer clube por que passa, é uma qualidade num treinador. Mas, voltando a Hjulmand, à equipa o que é da equipa, ou seja, a maior quota-parte do sucesso.
O Sporting foi um dos campeões com a mais baixa pontuação deste século e isso diz bem de como este foi um campeonato de… oportunidades perdidas. Os 82 pontos – tantos como o FC Porto de Conceição em 19/20, quando recuperou sete pontos de atraso para o Benfica e o de Mourinho, campeão europeu em 03/04, ou as águias de Rui Vitória no ano do tetra, 16/17 – só ficam acima de quatro outros registos de ligas com 18 equipas. O Benfica é dos que mais motivos tem para se fustigar, pois teve o pássaro na mão na penúltima jornada e nem na última mostrou capacidade para aproveitar um tropeção do rival.
O que, diga-se, seria improvável dada a escassa ou nenhuma oposição que teve de um Vitória de Guimarães também a bordo do comboio do fracasso à beirinha do fim. A derrota em casa com o Farense, na 33.ª ronda, foi uma sentença de morte anunciada, vendo a qualificação para a Liga Conferência escapar por entre os dedos para o Santa Clara que, coincidência das coincidências, a confirmou batendo a equipa de Tozé Marreco e pelo mesmo resultado: 2-1.
Mas como uma trama nunca vem só, também os algarvios morreram na praia – o empate ter-lhes-ia garantido o play-off (para não dizer que o triunfo os mantinha entre os grandes). Aves SAD e Boavista ficaram nas posições em que iniciaram a derradeira jornada, suscitando dúvidas: por um lado, conseguirão os tirsenses evitar a “maldição” que ajudaram a construir de os primodivisionários serem batidos no play-off pelo conjunto da II Liga, o Vizela? Por outro, terão os axadrezados capital financeiro e humano para regressar ao escalão a que historicamente pertencem?