A expulsão de Gonçalo Inácio no Braga-Sporting tornou o jogo dificílimo mas, ao mesmo tempo, na medida tática certa para os leões colocarem em prática aquilo em que são mais fortes.
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1 - Nenhum jogo é linear no que acontece nele na relação causa-efeito.
O Sporting puxou dos galões do seu processo defensivo, o momento do jogo em que é mais forte, e amarrou-o em trinta metros. Em bloco-baixo, Coates parece o melhor central do mundo. Tira tudo.
A expulsão de Gonçalo Inácio logo aos dezoito minutos tornava dificílimo para o Sporting, em inferioridade numérica, ganhar em Braga. Ao mesmo tempo, porém, simplificava o jogo em termos de prioridade tática para o manter empatado (sem nunca se expor, como faria naturalmente onze-contra-onze). Nesse contexto, puxou dos galões do seu processo defensivo, o momento do jogo em que é mais forte, e amarrou-o em trinta metros. Em bloco-baixo, Coates parece o melhor central do mundo. Tira tudo.
2 - Sem pestanejar, Amorim foi seguindo o mapa da organização defensiva. Nos últimos 20 minutos, com o Braga a alargar a frente de ataque, fez uma "linha de 6" atrás: meteu Matheus Reis para lateral-esquerdo, deixou Nuno Mendes como ala recuado, três centrais Neto-Coates-Feddal e o lateral-direito, Porro, em cobertura. Assim, fechava a "6", a toda a largura do terreno, os caminhos (de cruzamento e jogo interior) para a baliza de Adán (também imbatível nas vezes em que a bola passou).
Para ganhar, só numa saída isolada ou lance de bola parada. Mesmo toda concentrada a defender, a equipa mantinha as orelhas em pé para um lance desses. Ele apareceu, Porro abriu os olhos para o local onde ia meter a bola, Matheus Nunes ganhou o espaço e rematou. Golo. Ato imediato voltou a fechar-se e ganhou o jogo.
É o estranho paradoxo de como as ocorrências tornaram o jogo dificílimo mas, ao mesmo tempo, na medida tática certa para a equipa (ter de) colocar em prática aquilo em que é mais forte.
3 - Com Luis Díaz aberto com arco e flecha (finta e passe rápidos) e um n.º 9 cabeceador na área, Toni Martínez, o FC Porto ficou a dez centímetros de virar o jogo frente ao Moreirense. A avalanche ofensiva portista expusera a equipa atrás (Conceição assumiu, jogando nos limites do risco, partir jogo e equipa) em momentos que sentia jogar a época pelo que quando, naqueles últimos segundos, se entrou na cápsula do VAR, o futebol emocional como que ficou como uma tonelada em cima. O oposto da leveza tecnicista perfeita imune à pressão daquele centro de Otávio para a cabeça de Martínez.
No relvado mais pequeno do campeonato, o Moreirense consegue aumentar o campo a atacar, pelo critério de jogo assimilado que sai muito bem desde trás (conduzido por um médio craque que tem de saltar já para um grande, Felipe Soares) e sabe, depois, engarrafá-lo quase numa caixa de fósforos a defender.
De Braga a Moreira, a concentração tático-emocional do Sporting volta a cavar uma diferença maior no primeiro lugar. Cinco jogos (ou menos) em contagem decrescente para o título.
Fugir à corda no pescoço
O Rio Ave foi sugado para a luta pela permanência e Miguel Cardoso busca soluções para a equipa render mais. O jogo com o Paços (sentindo-se a equipa muito intranquila) voltou a revelar a opção, por vezes excessiva, pelo jogo interior (deixando as faixas quase só para laterais a subir/atacar). Nesse jogo interior também entra Fábio Coentrão, que teoricamente começaria mais aberto na direita, mas no jogo (pela dinâmica pedida e sua vontade em influir o mais possível) acaba sempre por dentro. Vendo o jogo pensei se não seria mesmo melhor assumir posicionalmente essa posição na estrutura. Não é novo para ele (jogou como médio interior no Real e Seleção) e daria maior saída agressiva no tal jogo interior demasiado a "diesel" desde trás com Filipe Augusto e Tarantini e com Geraldes, excelente a definir tecnicamente, mas encolhido às segundas bolas ou espaços curtos.
O Nacional voltou à vida ganhando ao V. Guimarães reforçando a sua postura... defensiva. Juntou três centrais (Pedrão-Julio César-Rui Correia) no sector mais recuado e teve no meio-campo Alhassan e Azouni a varrer (nos limites físicos) tudo que ameaçava esses últimos metros. A linha de água ainda está distante, mas só protegendo assim a defesa a equipa pode ficar mais competitiva.