Sérgio Oliveira no meio-campo do FC Porto: parece que nunca dali saiu
PLANETA DO FUTEBOL - Os clones são todos diferentes. A crónica de Luís Freitas Lobo.
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1 - Não existem clones no futebol. Todos os jogadores, mesmo os parecidos, são diferentes. Esta (óbvia mas contrariada) constatação não implica, porém, que a cada saída dum jogador e entrada dum novo, o treinador tenha de mudar a sua ideia de jogo. Terá, naturalmente, de adaptar as características que mudam em determinados aspetos tático-técnicos de influência individual no processo coletivo, mas na filosofia macro de jogo, deve manter-se fiel a ela.
Penso nisto vendo como Lage e Conceição lidam com as saídas de dois jogadores-chave nas dinâmicas das suas ideias de jogo: João Félix e Herrera, respetivamente segundo avançado entre linhas e motor n.º 8 de condução e rutura do meio-campo. Os últimos dois jogos (Supertaça e pré-eliminatória da Champions) já deram indícios de resposta. Duas operações de transformação estilística-posicional delicadas. Uma pela criatividade, outra pela rotação tática.
2 - Ver Raúl de Tomás como uma espécie de segundo avançado no dérbi desmistificou que ele só seria (por natureza de estilo) n.º 9 de referência. Assim era, de facto, nas equipas pequenas em Espanha, onde corria muito em largura, mas porque jogava só na frente, não por plano de jogo.
Nem jogadores parecidos conseguem fazer coisas iguais. Cada um tem o seu estilo, mas não obrigam a mudar o jogo da equipa
Agora, estrategicamente, Lage, em vez de o colocar lado a lado com Seferovic, meteu-o a vir buscar jogo atrás (1x1 que desfazia o puro "2" do 4x4x2), segurando ora de costas, ora rodando e distribuindo bem em apoios curtos no centro ou abrindo jogo.
Não tem o rasgo individual de Félix (e aqui entra a obrigação da sensibilidade para perceber que não existem os tais clones, mesmo que situando-se exatamente nos mesmos espaços), mas tem o peso de segurar a bola e surgir depois (se for essa opção) como dupla pura na frente. São subprincípios saídos do mesmo... princípio de jogo, ditados pelas diferentes características dos jogadores.
3 - O regresso de Sérgio Oliveira ao meio-campo do FC Porto provocou a sensação estranha de que, afinal, ele nunca de lá tinha saído. Resgatou a ideia do meio-campo a dois (junto de Danilo) no equilíbrio e início de construção, mas sendo ele a sair ora para pressão alta (individualizada de início no centro), ora para conduzir a bola até ao momento do passe.
Não tem a voragem de Herrera, mas sente os... espaços certos para estar e jogar, sem ter de correr tanto (nunca foi um jogador desses). Não cria a ilusão do esforço de que os adeptos gostam. Dá a realidade do pensamento de que as equipas precisam. O FC Porto não precisa de jogar sempre na vertigem da velocidade e do jogador rápido. Sérgio Oliveira é outra via, o subprincípio de características individuais que, por natureza, dá isso ao coletivo.
Nunca deixarei a paixão de comentar futebol!
Eu e o meu futebol
Sei bem onde a serpente pôs o ovo! Por isso será uma época diferente para mim. Com sacrifício emocional mas serenidade racional. Ao fim de tantos anos não irei comentar jogos em direto do nosso campeonato. A decisão é exclusivamente minha, mas o que a motiva vem de fora (diferentes locais...) e da consciência de que as pessoas, no hospício a céu aberto que se tornou a forma de viver o futebol em Portugal, não querem, nesses 90 minutos, ouvir falar do jogo.
Querem polémica, casos, deturpam o que se diz, mentem e caluniam nas diferente ramificações que saem do local onde a serpente pôs o ovo. Continuarei, claro, a ir aos estádios, porque não sei viver doutra forma, mas não deixo que matem a minha paixão. Nunca mudarei a minha forma de ser. Não vale tudo para atingir o que queremos. Acredito na ética, honestidade e respeito, aos colegas que irão comentar os nossos jogos desejo o melhor. Continuo na esperança de encontrar espaços, televisão e outros locais, onde possa falar do futebol em estado puro (táticas, técnica, Picassos e salas de máquinas) como gosto e sempre fiz.