No tempo do “scroll” infinito, esquecemos depressa. A taça de há cinco meses? Já parece relíquia. Sérgio Conceição, agora no Milan, lembra-nos que o passado conta, mas não rende cliques...
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No agora em que vivemos, do “scroll” infinito e do “última hora” a cada hora, tornou-se fácil banalizar feitos perdidos num turbilhão de novos factos que nos chegam ao ritmo das notificações no telemóvel. A taça erguida há cinco meses? Quase parece um feito alcançado no “século passado”. Foi bonito? Foi, sim senhor, mas... e o próximo jogo? O próximo jogo é a final da Taça de Itália, e Sérgio Conceição é apenas mais um protagonista desta particularidade moderna, tão rápida a esquecer, especialmente o que é bem feito.
O passado, por mais glorioso que possa ter sido, não volta, e se isso escapa a tantos, o trabalho de Sérgio Conceição no Milan prova que o treinador é o primeiro a perceber que o ontem já faz parte desse passado.Sem sabermos se hoje juntará um novo troféu à Supertaça italiana — em apenas meio ano no Milan —, Sérgio Conceição merece os elogios que tantas vezes lhe foram sonegados. Perante esta tendência para reescrever a história ao sabor do presente — sim, muito bonito, mas é apenas oitavo na Série A… —, recordemos que o treinador deixou o FC Porto após quatro Taças de Portugal, uma Taça da Liga e ainda três títulos de campeão nacional. Além de três edições da Supertaça portuguesa. E talvez sem o mérito que merecia. Talvez, não. De certeza.
Somos impelidos a exigir mais, a querer mais, e por isso pouco espaço sobra para saborear vitórias. Há clubes, jogadores e treinadores que são reféns do próprio sucesso: ganham uma vez e, em vez de aplausos duradouros, recebem só pressão para repetir. Sérgio Conceição dá-se bem com essa pressão, ao que parece.