A análise de Luís Freitas Lobo aos jogos de Benfica e Braga na primeira mão dos 16 avos de final da Liga Europa.
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1 - Neste momento de futebol benfiquista angustiado e hesitante, todos na equipa, dos defesas aos avançados, dão a sensação de que se sentem com autoridade para dominar o seu espaço e ao mesmo tempo poder para conquistar a área contrária.
A falta de consistência e de qualidade estava mais relacionada com a pouca convicção a uma ideia de jogo sem bases de ligação sólidas.
Todas as bolas parecem, porém, sempre ser aliviadas de trás ou chegar à frente em esforço. O estádio neutral e vazio torna tudo mais estranho, mas a falta de consistência e de qualidade estava mais relacionada com a pouca convicção a uma ideia de jogo sem bases de ligação sólidas do que a fatores externos.
Jesus decidiu encaixar Lucas Veríssimo no onze inicial e, para isso, redesenhou um sistema de três centrais (5x3x2, em organização defensiva, ou 3x5x2, na subida dos laterais) e três médios de raiz, prescindindo da habitual dupla que, dentro do seu conceito de "jogo partido", tem de preencher e correr por um latifúndio de relva. Com esse trio (Weigl, Pizzi, Taarabt) tinha bases para "colar o jogo" e ganhar superior consistência no "centro do jogo", mas a falta de rotinas no sistema prendeu, na prática, a ideia.
O Benfica, contra o Arsenal, entre a "modernização mutante" de sistemas (5x3x2, 3x5x2 e 3x4x3) e o fator individual diferenciador de Rafa.
2 - Jesus aposta num futuro do futebol moderno com mudanças sucessivas de sistemas, mas sem uma "casa tática comum" base é impossível uma equipa saber, de memória, na chamada "mecânica... não mecanizada", o jogo que tem de jogar.
O Benfica melhora quando abre mais o ataque com um triângulo. Rafa, quando entrou, tornou o campo mais largo e capaz de fazer dançar a estrutura inglesa, e a busca pelo golo ganhou mais critério. Junto com Seferovic a n.º9 e Everton "Cebolinha" mais solto desde a esquerda, mudou a dinâmica ofensiva numa fase em que mantinha a largura do sistema (agora mais 3x4x3 com bola). Mesmo nessa melhor fase, quando há problemas que transcendem o atual poder do treinador, só um futebolista acima dos outros o pode resolver. Rafa é hoje o único jogador do Benfica com esse estatuto e poder diferenciador.
O atual Arsenal de Arteta é uma equipa que escapou aos "cuidados intensivos" e vive sem grandes sonhos de futebol.
3- O atual Arsenal de Arteta é uma equipa que escapou aos "cuidados intensivos" e vive sem grandes sonhos de futebol. Smith Rowe tem jogo "à parte" pela temporização com bola, mas o que todos esperam para ganhar o jogo é de uma correria de Aubameyang. Demasiado curto para o que aquele núcleo de jogadores devia dar. Os melhores especialistas, como Xhaka e Ceballos, baixam tanto a intensidade que se esquecem da velocidade que a inteligência tática (notória em ambos) deve ter.
Mesmo perante esse ritmo, o Benfica nunca perdeu a noção de que, mesmo sempre longe da casa das duas equipas, este é um confronto para dois jogos. Por isso, não ia fazer "riscos ofensivos maiores" no quadro tático.
Uma "faca nas costas"
Sem nunca perder as suas convicções de jogo, o Braga sentiu o que pode ser uma equipa italiana treinada por um... treinador português.
A exibição da Roma na Pedreira tem muito (quase tudo) do conhecimento de Paulo Fonseca em relação ao que podia ser a "armadilha do adversário acessível" que este jogo convidava. A forma como montou a estratégia (dentro do habitual de 3x4x2x1) para atrair o Braga e depois lançar o contra-ataque (metendo um trinco que "cortou tudo", Diawara) mostrou esse respeito e visão. Marcou cedo nessa postura e foi durante o jogo todo administrando essa vantagem.
Roma: equipa italiana a pensar em português
A forma como ambas as equipas chocavam no corredor central era diretamente proporcional à forma como desencaixavam pelas faixas, sobretudo a esquerda (canal preferencial de penetração dos romanos).
Foi dos jogos em que vi o Braga "jogar longo" mais vezes, face à primeira linha de pressão italiana estar, sempre, com radares ativados. Com as circunstâncias do jogo a fugirem, também, ao onze de Carvalhal, o resultado foi, taticamente, como uma "faca nas costas".