PONTAPÉ PARA A CLÍNICA - Um artigo de opinião de José João Torrinha.
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1 Algures numa parede, alguém pintou uma frase enigmática, mas com piada: "está tudo bem, mas está esquisito." Foi mais ou menos essa a sensação, na quinta-feira.
O desejo de que de novo houvesse futebol era generalizado e por isso se saúda o regresso da bola a rolar sobre o relvado.
Dito isso, a verdade é que foi um regresso esquisito. Uma espécie de jogo de pré-temporada, mas sem ninguém a assistir. Um caricato (não) ambiente a rodear o jogo.
Dos múltiplos chavões que usamos no futebol, vale a pena fixarmo-nos num: "ritmo competitivo". Por muito bem que os jogadores se tenham tratado durante o período de confinamento, a verdade é que tanto tempo sem competir tinha de se pagar de alguma forma. Não espanta por isso, a existência de erros individuais pouco comuns, a falta de qualidade em muitos dos passes tentados, ou a fraca direção de outros tantos remates.
Individualmente, notou-se que a paragem teve efeitos diferentes nos jogadores. Alguns houve que antes se encontravam bem e assim continuam (acima de todos, Pêpê). Outros, nem tanto... Outros regressaram em excelente condição (veja-se Joseph, apesar da expulsão), outros, nem tanto... Mas globalmente todos deram o seu melhor e a equipa promete boas exibições para o que resta da competição.Queria ainda destacar outros
dois aspetos. Um diz respeito ao nosso treinador. Como todos, Ivo Vieira terá defeitos e qualidades. As suas opções estão sempre sob o escrutínio público e todos nós, vitorianos, já teremos discordado de algumas delas. Mas há uma coisa na sua atitude que me deixa sempre rendido. O Vitória joga sempre para ganhar. Sempre. Estava a ver o jogo e quando ficamos reduzidos a dez eu próprio, com aquela mentalidade de "mais vale um pássaro na mão" pensei: é melhor meter marcha atrás... Qual quê? O Vitória continuou a lutar pelos três pontos até ao fim, olhos nos olhos com o adversário.
Independentemente da data em que Ivo abandonar o nosso clube, espero que este legado perdure por muitos e bons anos.
A última nota relativa ao jogo vem em forma de pergunta: alguém percebeu a diferença entre a entrada de Joseph (que lhe valeu o segundo amarelo) e a de Battaglia (que não lhe valeu o segundo amarelo)? É que, no critério disciplinar, não há falta de ritmo competitivo que desculpe as decisões arbitrais.
2 Cada vez que há um tiroteio com múltiplas mortes nos Estados Unidos, os políticos americanos dirigem os seus pensamentos e orações para as vítimas e tudo continua na mesma, até ao próximo tiroteio. Em Portugal acontece algo parecido. Atos de vandalismo no futebol com consequências potencialmente muito graves acontecem. Segue-se a crítica e consternações generalizadas e nada muda até ao próximo ato.
Não sei, francamente, o que mais terá de acontecer para que todos (dirigentes, políticos, adeptos, entidades policiais) se juntem para dizer basta e sejam tomadas as medidas que de uma vez por todas erradiquem as ervas daninhas que empestam o nosso futebol. Quem sabe, um dia...