HÁ BOLA EM MARTE - Opinião de Gil Nunes
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A prestação da Seleção de sub-21 no Europeu faz lembrar aquele sketch dos Gato Fedorento. À média e à belga: não sou um tipo ambicioso, só gosto do mais ou menos e do razoável. E a questão passa por aí: sem um fio de jogo que permita sonhar mais alto, Portugal parece estar refém de uma qualidade individual indiscutível que, não resolvendo tudo, pelo menos evita que se caia na catástrofe e se navegue nos serenos sobressaltos do mar do assim-assim. E cada canto parece ser uma descida aos infernos, depois de dois golos sofridos de forma displicente.
Se, na Liga dos Campeões de 2004, o FC Porto ganhou um embalo decisivo após ter eliminado o todo-poderoso Manchester United nos "oitavos", há também o fenómeno contrário. Perder contra a Geórgia na jornada inaugural cria aquela inexplicável nuvem de ansiedade. "Afinal, perdemos é com todos". Para além da tática, as palavras. Só hoje se verá se Rui Jorge conseguiu levantar o moral das tropas e ressuscitar o espírito de 2021: onde, com Fábio Vieira, Dalot e Diogo Costa, se perdeu mas se sonhou "à grande e à portuguesa".
João Neves: bom São João
Sem ter feito uma exibição brilhante diante da Bélgica (na realidade, ninguém o fez), voltou a aparecer na altura decisiva para fazer a diferença. Remate confiante, bom golo e a evidência de que a Seleção de sub-21 tem, ainda assim, capacidade de desequilíbrio. Depois de, ao nível do Benfica, ter aparecido no último terço da época para marcar a diferença e disfarçar alguma cristalização tática dos encarnados, parece ter consolidado o seu bom timing na Seleção de sub-21 onde foi uma das surpresas (ou talvez não) da convocatória. Pelo meio ou descaído para a direita, não mostrou tremedeira e foi dos mais lúcidos no jogo que valeu os quartos de final.
Tiago Dantas não vacila
Em face do jogo algo anárquico da Seleção, a grande penalidade "caída do céu" trouxe consigo um dilema: ou marcas e tudo corre bem; ou então falhas e estamos fora do Europeu. Tiago Dantas não desiludiu: com muita confiança, bateu forte e preciso, e mostrou aquela frieza que define os melhores e os que não temem aparecer na hora certa. Muito hábil na altura de construir o jogo, a sua qualidade de passe parece ser o eixo fundamental para que tudo se cosa em conformidade e a Seleção recupere rapidamente a sua consistência. É preciso ver que o Bayern não o contratou por acaso: tem inteligência em todas as ações, provando que o cérebro vale mais do que o físico. Em bom plano.
Marcano: porque sim!
A renovação de Marcano é uma excelente notícia para os dragões. Por todos os motivos do mundo: em primeiro lugar porque conhece de cor e salteado a cartilha de Sérgio Conceição, sobretudo ao nível das bolas paradas - marcou golos decisivos na temporada passada (Vizela fora, por exemplo); depois, porque é um elemento de coesão do balneário e consolidação da mística azul e branca, situações que valem muitos pontos invisíveis; depois, porque representa uma cavilha de segurança para o desenvolvimento harmonioso de David Carmo. Uma justa recompensa para um central espanhol que já tem o seu nome gravado na história recente do FC Porto.
A baliza dos encarnados
O Benfica quer fortalecer as suas redes - fala-se de Bento - e tal justifica-se. Por muito que Odysseas seja tremendo dentro dos postes, para ser titular do Benfica não chega. Frente a FC Porto ou Inter, o fator guarda-redes como eixo da primeira linha de construção fez toda a diferença no resultado final.