PASSE DE LETRA - Um artigo de opinião de Miguel Pedro.
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O general romano Quinto Sertório (séc. I a.C.) foi um dos grandes impulsionadores da cartografia de guerra.
Para ele, nenhuma estratégia militar ou política teria sucesso sem olhar primeiro para um mapa e perceber para onde se deveriam enviar as tropas ou os diplomatas. "São os mapas os oráculos das conquistas e dos sucessos", terá afirmado o general, antes de, no ano 80 a.C., ter sido enviado para a Península Ibérica para conquistar as suas províncias, depois de os lusitanos lhe terem prometido apoio e convidado para seu líder.
Olhar para o mapa do futebol português nesta época de 2021/22 poderá trazer para o Braga alguns ensinamentos importantes para definir a sua estratégia futura: serão seis os clubes da AF Braga a participar na I Liga. Trata-se de um número verdadeiramente impressionante, pois representa exatamente 1/3 do total dos clubes concorrentes. Se alargarmos a análise ao distrito do Porto, o número de clubes sobe para nove (precisamente metade). Concentrações de tantos clubes em pequenas zonas geográficas são pouco comuns. As cidades de Londres e Buenos Aires (com 13 e 18 clubes profissionais, respetivamente) não se comparam ao fenómeno minhoto, pois são cidades gigantes, com populações de vários milhões de habitantes (9 e 13 milhões). Há também o caso da zona do Rhine-Rühr na Alemanha, uma das mais industriais do mundo e que alberga 15 clubes profissionais, entre os quais Bayer Leverkusen, Borússia Dortmund, Borússia Möenchengladbach, Köln e Schalke 04. Mas também aqui há que referir que a área tem mais de 10 milhões de habitantes e algumas das mais poderosas empresas a nível mundial.
Esta concentração de clubes no espaço geográfico onde está sedeado o Braga merece a nossa reflexão. Por um lado, é muito positivo, pois mostra que o distrito tem população, massa crítica, paixão pelo futebol, talento. A rivalidade potencia a qualidade e isso é bom, pois incentiva a que cada um procure ser melhor. Também é um dado positivo para os adeptos que queiram acompanhar a equipa nos jogos fora de casa, pois as deslocações são curtas. Em alguns casos dá para ir de bicicleta, como referiu recentemente Manuel Machado, presidente da AF Braga. O lado negativo é que a população não chega a um milhão de habitantes e o tecido empresarial da região, sendo forte à escala nacional, não é suficientemente pujante quando comparado com outras regiões. É sabido que o Norte de Portugal é a região do país com menor rendimento por habitante. Esta concentração também não ajuda o Braga a crescer em termos de adeptos. Os clubes minhotos estão praticamente confinados aos seus concelhos quanto à sua base social natural. O Braga é o clube minhoto com maior potencial de expansão e conquista. Terá, quanto a nós, que focar as suas estratégias de conquista de adeptos e apoiantes a norte do distrito e no distrito de Viana do Castelo (que nunca teve nenhum clube no principal campeonato português).