PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de Luís Freitas Lobo.
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1 Os sons do silêncio. Não aqueles que cantaram Paul Simon e Garfunkel numa música de letra eterna, mas o que provoca as bancadas vazias num tradicional jogo de todos os excessos sonoros. Esta final da Taça Benfica-FC Porto terá o cenário do "esqueleto de multidões" que é o estádio vazio, como lhe chamou, sublimemente, Mário Benedetti.
Estarão os jogadores a pisar esse relvado com "ossos de futebol". O embalo empolgado do FC Porto de Conceição contra o último suspiro do Benfica de Veríssimo, um treinador e uma equipa numa espécie de "limbo existencial", entre o passado renegado de Lage e o futuro de que só se ouve falar com o profeta Jesus.
No meio, porém, ainda existe uma equipa, quase órfã de afetos e análise, como se não existisse verdadeiramente. Esse pode ser, no entanto, o seu maior trunfo num jogo em que, pela consistência e motivação (o jogo e a chamada "tática emocional") tudo parece pintado de azul-e-branco.
2 Este último "Benfica incógnito" não terá, acredito, grandes surpresas táticas, nem tem margem para isso. Pode, porém, partindo deste baixar de expectativas recolocar a cabeça no sítio aos melhores jogadores e, tocando na "tecla coletiva certa" de os distribuir em campo, jogar tática e emocionalmente solto como em mais nenhum jogo desta época.
Se o Benfica perder o jogo, quem o vai perder verdadeiramente? O presidente num jato privado com um novo treinador não parece possível. O treinador despedido também não. O interino não tem responsabilidade de milagres. Estes jogadores são só os que jogam enquanto não chega a legião de craques anunciada.
Sendo assim, que Benfica é hoje este? Se Veríssimo olhar camuflado para tudo isto, pode procurar pelo que jogou melhor nestes tenebrosos jogos da retoma. Houve ali, pelo meio, algum momento em que, antes de ser engolido como quase todos os treinadores atualmente pelo "caos irracional" das cinco substituições, a equipa esteve como deve? Talvez. Weigl-Taarabt; Zivkovic-Rafa-Pizzi; Vinícius. Uns vinte minutos contra o Santa Clara que valeram três golos (de 0-1 para 3-2). A seguir, veio o caos (e o 3-4).
3 O FC Porto rotinou nos últimos jogos, em termos de estrutura preferencial como ponto de partida, a melhor face do seu 4x3x3 com, se pretender, mobilidade de dois.... pontas de lança. Este jogo indica mais, porém, para ser de apenas um de raiz e muito jogo exterior (Luiz Díaz e Corona, dando o espaço 10 a Otávio e, assim, retirando referências mais fixas aos adversário).
Aqui está, pois, uma boa forma de as duas equipas, por razões diferentes, poderem começar este jogo da mesma forma: retirando as maiores referências da época à outra. Será possível?
Limite da existência
Já não existe, como nos velhos tempos, a finalíssima no caso de empate (no fim do prolongamento). Agora são logo penáltis. Posso voltar a parecer saudosista, mas recordo como era tremenda a carga emocional e física desse segundo jogo. Só para jogadores de "barba rija". Que grandes duelos então se travavam, no limite da existência humana-futebolística. Por mim, continuava. O calendário está sobrecarregado? Aliviem-no do que não interessa.
Não considero, porém, os penáltis uma "lotaria". É dos maiores absurdos que ouço dizer tantas vezes. São, pelo contrário, momento de grandes competências. Naqueles instantes, para quem marca, entra controlo emocional, frieza, precisão técnica, astúcia de escolher o lado do remate. Para quem defende, a concentração, o estudo que permite "adivinhar o lado", o timing certo de esperar até ao momento certo de se lançar para a defesa.
Vejo a angústia mais em que marca do que em quem defende. No fim, o vilão será sempre o jogador que falhou. E o herói o guarda-redes que defendeu. Não há hipótese de alterar os sujeitos destas frases.