São "chicotadas diretivas-empresariais"
Já sabemos como são as equipas de Lito. Estavam à espera de ópera? Joga com um martelo, faz pontos e cumpre objetivos. Vítor Campelos estava a ser, com avanços e recuos, uma boa revelação.
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1 - Não adianta querer fugir das conversas mais difíceis. O futebol, entendido como o jogo, fala por si próprio e coloca-as ao vivo, diante de todos (tanto ao público à chuva como a treinadores ou analistas abrigados). O futebol taticamente mais bem jogado é propriedade dos melhores médios a ocupar o centro de pensamento do jogo.
O Benfica melhora nesta fase quando Lage consegue juntar melhor esse puzzle do sector. Chiquinho entrou bem como n.º 10, com pele de segundo avançado, mas está a ser atrás, com a criação de um duplo pivô, mais de saída técnica-pensada (com Gabriel, passe curto de saída apoiada entre linhas, e Taarabt, a sair para o jogo e a fazer outros passes de rutura, mais à frente, como o que deu o golo do 2-1 ao Braga), que a equipa encontra um novo fator tático de respiração.
Face a esta nova fórmula, penso em Florentino. Vejo nele potencial para crescer como um n.º 6 de top (porque tem calma nos locais certos e revela boas opções), mas, com esta nova ideia de Lage, sai do onze. Nunca sairá, porém, de outras melhores opções. São questões que conceptualmente se confrontam e distintas ideias táticas. Lage tinha de reinventar as dinâmicas (sobretudo criativas) do meio-campo, sempre rotativo, mas já demasiado em piloto automático que os adversários reconheciam.
2 - Quando o FC Porto teve aquele "problema-Instagram", penso que devia, naturalmente, tomar as devidas medidas disciplinares (o regulamento interno deve contemplá-las nestes tempos modernos de redes sociais intrusas), mas sempre achei que isso nunca deveria ter... consequências táticas no jogo da equipa. Ou seja, uma coisa é uma festa de anos, digamos, esfusiante, outra coisa é a equipa a jogar da melhor forma e ter de manter isso. Outra coisa, também, seria o jogador ser indisciplinado no jogo para com colegas, adeptos ou treinador. Não foi isso. Por isso, a saída da equipa (ou das opções para o onze) de Uribe teve um efeito deflagrado no sector que faz o jogo falar melhor ou pior.
3 - Loum tem coisas interessantes, mais de posição e saída física (vejo-o como um n.º 8 mais perto de ser, recuando, n.º 6 do que de linhas mais avançadas). Uribe tem a clara noção de quando deve ficar, dar passos em frente para encurtar/pressionar, sair em posse, passar bem e chegar até terrenos mais adiantados. Não é um supercraque, mas, entrando exatamente no que o onze necessita, torna-se, com essas características, um jogador fundamental nela.
É o urubu tático que pica em todos os lados. Recordem a vitória na Luz e como reentrou nos últimos jogos. O melhor FC Porto tem de ter o futebol urubu de Uribe. Nenhuma equipa nasce ensinada.
Que podem Daniel Ramos e Ricardo Soares fazer melhor do que Lito Vidigal e Vítor Campelos?
Não são duas chicotadas que façam desportivamente sentido. Terão de existir outros motivos. Não ponho em causa o valor de quem entra, mas o que podem agora Daniel Ramos e Ricardo Soares fazer melhor do que Lito Vidigal e Vítor Campelos no Boavista e Moreirense? Ambos estavam (jogando melhor ou pior) com um futebol competitivo para o nível do nosso campeonato.
Já sabemos como são as equipas de Lito. Estavam à espera de ópera? Joga com um martelo, faz pontos e cumpre objetivos. Vítor Campelos estava a ser, com avanços e recuos, uma boa revelação. Tinha curiosidade em ver como ia evoluir daqui para a frente.
Isto são outro tipo de chicotadas, que davam artigos de fundo. Querem melhor futebol? Como? Nenhum deles é um milagreiro que meta as equipas a jogar pela Europa. Querem outro tipo de jogo e jogadores a... jogar mais para os potenciar e vender agora em janeiro? OK, é, confesso, impossível não pensar nisso. São "chicotadas diretivas-empresariais". Não é possível serem puramente desportivas, quando ambas as equipas estavam bem dentro do seu valor (pontual e de jogo). É isto o futebol atual.