Danilo e William Carvalho não foram dois coletes à prova de bala que o selecionador medricas vestiu um por cima do outro.
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Alguns minutos perdidos em sites de informação e nas redes sociais sossegam o adepto português: o 3-0 à Hungria em 2021 motivou as mesmíssimas reações do Portugal-Islândia (1-1) de 2016.
Dois títulos europeus mais tarde, Fernando Santos continua a ser catalogado entre o conservador, o medroso e um termo ligeiramente mais prosaico, a fugir para o escatológico.
Entre os dois onzes não há diferenças posicionais relevantes: o Diogo Jota era Nani, João Mário era o falso ala direito, como Bernardo, Moutinho fazia o lugar de segundo médio, como William, e André Gomes funcionava como Bruno Fernandes. O senão é que, no papel, nenhuma seleção arrisca mais do que isto na equipa-base, nem sequer a França, com os seus três super-médios (Kanté, Pogba e Rabiot). Não é Fernando Santos o incompreendido. O que se compreende pouco em Portugal é o futebol.
Neste jogo com a Hungria, Danilo e William não foram dois coletes à prova de bala que o selecionador medricas vestiu um por cima do outro: foram armas de ataque que mantiveram a seleção subida no campo, ganhando dúzias de duelos e de bolas contra uma equipa de mastins, não à frente da defesa, mas lá longe, bem dentro do meio-campo húngaro. Seria difícil, nem digo pedir, mas imaginar um posicionamento mais atrevido, que dificilmente se poderá repetir contra os dois adversários que aí vêm (Alemanha e França), caso a expectativa seja a de dois gloriosos combates ofensivos. Nenhuma das três seleções estará disponível para poesias (alguma seleção no mundo estará?), e não é por não gostarem de futebol bem jogado ou de não apreciarem os artistas: é por não serem estúpidas.