Toda a gente julga saber porque é que Fernando Santos perdeu, mas nestes cinco anos ninguém quis, realmente, descobrir por que ganhou.
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O treinador Louis Van Gaal, que está em processo de candidatura à seleção da Holanda, fez notar o detalhe de todos os favoritos ao Euro"2020 eliminados precocemente (França, Alemanha e Portugal) serem treinados pelos mesmos selecionadores há muitos anos.
É mais um padrão, a juntar ao dos quatro semifinalistas que fizeram quase todos os jogos em casa ou ao ranking do desgaste 2020-21 em que os jogadores franceses, portugueses e alemães ocupam três dos quatro primeiros lugares.
Deschamps, Low e Fernando Santos estão desatualizados, é isso que Van Gaal sugere?
Trinta e uma seleções vão sair derrotadas do Euro"2020. Será mais útil entender porque é que cada uma delas perdeu (sabendo que as explicações serão todas diferentes e aos milhares) ou perceber porque é que a 32ª ganhou o campeonato? Será mais inteligente debater as múltiplas combinações possíveis que levaram à habitual eliminação portuguesa (é sempre o resultado mais provável) ou perceber o que fez a Seleção chegar às, estatisticamente, excecionais vitórias no Euro"2016 e na Liga das Nações 2019? Não faz mal nenhum estudar os fracassos, mas eles são muitos e os sucessos são raríssimos. Ninguém, nestes cinco anos, fez o mínimo esforço para estudar o primeiro selecionador português vitorioso, a não ser pelo lado das qualidades que ele, supostamente, não possui e que, por não as possuir, ajudam pouco a perceber porque ganhou.
No século dos treinadores super-estrelas, o que mais aprecio em Fernando Santos é não haver nele a mínima possibilidade de cair num erro a que os arquitetos chamam excesso de assinatura. O excesso de assinatura equivale ao que os cães e gatos fazem quando alçam a perna nos arbustos, uma mijinha para que se saiba quem passou por ali. Boa parte dos programas de futebol na tevê adora treinadores que fazem mijinhas. Cobri, no Prater, a final da Liga dos Campeões que Van Gaal venceu com o Ajax (1995) e lembro-me do primeiro salpico dele na sala de Imprensa: "Ganhámos porque os jogadores executaram a minha estratégia." Os críticos têm razão. Fernando Santos nunca ganhará por causa disso.