Um presidente sonhador, uma política desportiva a render e um plantel que ri antes de ganhar. Ontem a festa até teve golfinhos...
Corpo do artigo
Sem que na luta pela fuga à descida de divisão tenha mudado algo desde a jornada anterior, é justo que o foco desta análise seja o feito inédito do Santa Clara, que goleou o Farense para ultrapassar o V. Guimarães sobre a meta e apontar agora à estreia europeia, porque a Taça Intertoto, em 2002, não foi bem a mesma coisa.
Há muito para contar sobre um clube peculiar, onde se festejam recordes de pontos e o plantel celebra muito antes de concretizar qualquer tipo de objetivos.
Há muito para contar sobre um clube peculiar, onde se festejam recordes de pontos e o plantel celebra muito antes de concretizar qualquer tipo de objetivos. Este ano, por exemplo, o grupo alugou, antecipadamente, uma casa para confraternizar depois de um jogo com o Rio Ave (32.ª jornada) que ninguém sabia bem se iria ganhar.
Aconteceu mesmo e todos se reuniram para rir, comer e beber, em 24 horas de animação, com piscina e um DJ à disposição. Sem reservas nas redes sociais, sem filtros e com muito para contar. Até o treinador, Daniel Ramos, esteve presente. No dia a seguir "hora de voltar ao trabalho", escreveu a maioria do plantel. Seguiu-se uma vitória em casa do Belenenses e a iminência do feito que se anunciava. Nova marcação, agora de um passeio de barco, visita aos golfinhos e almoço a seguir. Antes de conhecer o resultado. No final, mais uma festa rija, que aconteceria, na mesma, se a equipa terminasse por baixo. Ukra (dá sempre jeito um animador deste nível) fez de Leonardo di Caprio, chegou a mergulhar e os açorianos não foram meigos a festejar. Não porque vai à Europa, mas porque o clube quer continuar a ser diferente e entende que, desta forma, também potencia os resultados desportivos.
No mais, há três figuras que se devem destacar. O presidente Rui Cordeiro que sonhou, o diretor desportivo Diogo Boa Alma, que fez acontecer, e Daniel Ramos, o treinador que saiu no ano da subida e regressou para um feito maior. O projeto é, essencialmente, dos dois primeiros, amigos de faculdade e cúmplices na estratégia. O presidente lidera a gestão estratégica, financeira e comercial, Diogo trata do futebol: pagou apenas 300 mil euros de transferências e para acionar a opção sobre jogadores (Kaio e Thiago Santana) que recrutou por empréstimo e, depois, vendeu por 13 vezes mais. Contrata muito nas divisões secundárias, nos mercados alternativos e encontra reforços de luxo entre dispensados de outros clubes. Carlos Júnior é o próximo a sair, mas não coube no Rio Ave.
A Figura
Um projeto à medida do gestor
Diogo Boa Alma, 38 anos, não é administrador desde janeiro, mas continua, como diretor desportivo, a pensar todo o futebol do Santa Clara, um clube que desde 2018/19 regressou à I Liga e não gasta dinheiro em contratações. A SAD tem sido um sucesso financeiro e vendeu, de forma consecutiva, Kaio Pantaleão, Fernando Andrade, Zaidu e Thiago Santana à medida que melhorou a cada campeonato. Mérito de Diogo Boa Alma, que assume a pasta a sós, sem interferência do presidente e muitas vezes com recurso a mercados de que ninguém se lembraria, da Líbia ao Japão, do CdP ao Iraque.