VELUDO AZUL - Um artigo de opinião de Miguel Guedes.
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A derrota em Milão, a primeira a quebrar um ciclo vitorioso de 22 jogos em quatro meses, tem o sabor esperançoso de quem se sente traído por uma história má, a meio do livro, sabendo de toda a capacidade para escrever outra, na parte que lhe resta, a seu bel prazer, para o andamento final em "allegro".
Passagem para enfrentar um sorteio que seja maestro e, depois, dois jogos que nos entreguem o acesso às meias-finais. Sonhar alto, só para campeões.
A vantagem maior da tormenta vive na bonança. Olhar para tudo o que a equipa fez em Milão, convocar as expressões comprometidas, a complementaridade do esforço, coletivo, entrega que só não encerrou vitória por um conjunto maior de circunstâncias. Aqui, também, a nota de azar. Além das vicissitudes do jogo, Sérgio Conceição disse que, em Milão, "houve quem jogasse só com palestra e vídeo". Steven Soderbergh, Palma de Ouro com outra trilogia, semelhantes e escassos meios, ganhou graças a saber como realizar o comando. David Lynch, referência "Blue Velvet", assegura que o seu maior prazer é sentir felizes aqueles que participam nos seus projetos de sonho. O treinador do FC Porto levou a jogo alguns jogadores que só entregaram uma lição pouco estudada, mas algo mais. A forma superlativa como o FC Porto se entrega à esmagadora maioria dos jogos europeus tem que ser replicada dentro de portas. Ninguém perde pontos com este compromisso no campeonato.
Imaginar a palestra de hoje para o jogo com o Gil é apelar a reações químicas à derrota que se equacionam em proveta de motivação num tubo de galo para ensaio em Barcelos. Mas hoje, no Dragão, não serve de vingança frente ao Gil. Milão foi inspirador, mas nada se fará se a equipa soçobrar no campeonato, perdendo pontos para liderança. Ganhar na Liga dos Campeões passa também por ganhar na Liga Portugal. Salvar a época na Europa é só para arrumados precoces ou para quem pode mesmo fazer a diferença, ganhando a final.
As opções para o 11 estão condicionadas, novamente, sem que se possa invocar esse facto como decisivo. Uma equipa que regressa tão competentemente fora de portas, terá que encontrar os equilíbrios necessários. Ainda que sem Galeno ou Evanilson, mesmo que sem muitos em competição e apuro, Taremi pode voltar a fazer a diferença. Estará no seu acerto muito do que a equipa é capaz de fazer em superação. Voltar a casa não pode ser um novo complexo da ponte.