Salvador não quer saber dos outros clubes. Em mente só tem o título nacional
SENADO - Um artigo de opinião de José Eduardo Simões.
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No pós 25 de Abril, sucessivamente, um quarto clube procurou intrometer-se na luta pelo pódio ou alcançar o lugar cimeiro.
Nenhum conseguiu aguentar muito tempo mas vários tentaram. O primero foi o Vitória, o de Guimarães, de Pimenta Machado, que chegou a ser considerado o homem mais poderoso do futebol nacional.
Dizia-se que conhecia demasiados segredos e podres de muita gente importante, que seriam beneficiários, ele e/ou o clube, de situações menos claras e negócios mal explicados; e que receberia das transmissões televisivas mais do que o Sporting e quase tanto como Porto e Benfica. Muitos o receavam porque parecia ainda mandar na FPF. O certo é que, nesse período, o Vitória alcançou feitos desportivos de realce, fez ótimas transferências e, cereja no topo do bolo, resolveu a seu favor, com a cumplicidade de altos funcionários da FPF, uma das maiores trafulhices do futebol português - o caso N"Dinga.
A sua saída e a fragilização do Vitória foi aproveitada pela família Loureiro, que soube manobrar os meandros e tomar as rédeas da Liga de Clubes, passando a deter fortíssima influência sobre a empresa detentora dos direitos televisivos e o sector da arbitragem (as nomeações e classificações, o sobe e desce eram fator de poder e de receio para muitos que preferiam servir a ser bons profissionais).
Com tudo isso beneficiou o Boavista, que chegou a um inédito título e fez grandes campanhas europeias, até que o Apito Dourado marcou o final do reinado dos Loureiros. António Salvador apercebeu-se desse vazio e assumiu uma estratégia diferente para o Braga, distanciando-se de cargos cimeiros na Liga e FPF (tem lá gente mas em posições discretas) para montar uma estratégia do tipo "Porto 2.0": um clube que não quer representar o norte mas parte dele, uma região grande e poderosa de gentes, empresas, entidades, universidade e forte crescimento económico e social. Assim, Braga tentou ser um "reino" independente dentro dos reinos do norte, o que está a conseguir com a forte presença da Câmara, das maiores empresas, da própria Igreja numa fase fulcral, de Jorge Mendes e do mérito de Salvador, presidente do clube financeiramente mais saudável do nosso futebol.
O recente "grito do Ipiranga" de Salvador tem um objetivo: elevar o patamar de receitas da centralização dos direitos TV para níveis próximos dos 3 maiores. Salvador não quer saber dos outros clubes da I e II Ligas. Em mente só tem o título nacional. Será que o consegue ou vai repetir-se a história de Vitória e Boavista?