Desmaquilhando o negócio, sobra a dúvida: foi mesmo bom para todos, tê-lo-á sido sobretudo para Rúben?
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Podemos olhar a transferência de Rúben Neves de duas maneiras: a pragmática e a ingénua; o mesmo é dizer, com ou sem cosméticos. Despachando já o pragmatismo, o negócio fez-se num contexto de urgências financeiras e tentando fintar a sombra de saldos. O acordo não é fabuloso (o mesmo clube pagou 15 milhões de euros por Hélder Costa); será quando muito razoável, considerando a etapa de evolução em que o jogador estava e que, ironicamente, roçou até a estagnação/retrocesso com a passagem de Nuno Espírito Santo pelo FC Porto. Havia Danilo a servir de desculpa, é verdade, mas as opções de Nuno estiveram longe de favorecer o crescimento que Lopetegui tinha projetado e fermentado.
Tem a sua graça, embora não chegue a ser contraditório, que o mesmo treinador que pouco o utilizou no Dragão faça agora dele bandeira do novo projeto como contratação mais cara de sempre do Wolverhampton. Mas essas são magias de Jorge Mendes...
Rúben tinha talento para qualquer campeonato e tê-lo-á seguramente em dose suficiente para a II Liga inglesa. Por isso, não é que o rumo seja estranho. É apenas triste. E isso leva-nos ao ângulo ingénuo da questão, o tal em que se lamenta ver mais um talento precoce a enfrentar... precocemente a ameaça de acabar triturado em urgências que não eram as dele. Duvida-se que Rúben tenha dado saltos de alegria por seguir para a II liga inglesa; e se os deu, então é porque confia menos no próprio talento do que aquilo que seria suposto. Caso lhe tenham apresentado o Wolverhampton como uma ponte, o melhor é que faça por atravessá-la rapidamente para retomar um trilho de crescimento que, mesmo de bolsos cheios, fica em modo stand-by.