TEORIAS DO CAOS - Um artigo de opinião de José Manuel Ribeiro, diretor do jornal O JOGO.
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1 Jonathan Wilson, autor de um dos melhores livros sobre futebol que li ("Invertendo a Pirâmide", acho que já escrevi isto umas dez vezes, desculpem), sugere com pouca subtileza que o Manchester City conduziu o United, como quem conduz uma ovelha, à contratação de um Cristiano Ronaldo "que coartou as possibilidades táticas da Juventus nos últimos três anos".
Wilson cita estatísticas para sublinhar que, na última época, só dois por cento dos atacantes das cinco maiores ligas pressionavam tão pouco como ele, na média por noventa minutos (um tema bem presente no último campeonato da Europa).
Se havia uma forma de impingir Ronaldo de volta ao United, não há dúvida de que seria uma intervenção do outro clube de Manchester, e também é verdade que o City não ofereceu um centavo pelo jogador: só o aceitava sem qualquer custo de transferência.
Como Wilson, custa-me a imaginar Ronaldo numa equipa de Guardiola, mesmo necessitada de um finalizador, mas a Europa está cheia de fulanos convencidos de que entendem o catalão e eu não sou desse clube. Entendo Jonathan Wilson. Arrisco mesmo usar uma imagem levemente homoerótica para definir o Ronaldo atual. É um corneto ao qual resta apenas o chocolate, isto é, a finalização, na ponta da bolacha de baunilha. O desafio impossível implicaria teleportá-lo para os momentos em que um pé preciso e infalível seja imprescindível sem deixar de ter o mesmo de todas as outras equipas do mundo. Avançados que pressionem, que joguem no espaço e que deem tanto aos colegas como eles lhes dão, em vez de torcerem as equipas em volta dos seus defeitos. Haverá um momento em que os prejuízos serão tão evidentes que o treinador, quando não os adeptos, terá de lhe contar a verdade. Se Ronaldo não fizer o costume, que é surpreender, ou não quiser aceitar o destino, esta época dará razão a Wilson. Ao som de gargalhadas no outro lado da cidade ou pior ainda, de foguetes, no outro lado do canal da Mancha. Messi pode estar prestes a ter a última palavra.
2 O Catar, país alheio ao futebol, sem história, sem adeptos, sem jogadores, sem contributos positivos de registo e sem idoneidade, manipula há vários anos a inflação e a equidade desportiva deste jogo na Europa. Os supostos limites, como o fair-play financeiro da UEFA, já foram subvertidos nos tribunais pelos advogados mais caros do planeta. Agora são uma palhaçada que até funciona a seu favor, porque subjuga os adversários. Messi chega ao Paris Saint-Germain porque o Barcelona se sujeita a regras que o PSG contorna. Não tem por trás um país que lhe providencie patrocínios inflacionados, apesar de possuir mais sócios, mais adeptos e uma implantação no planeta incomparável. Se a UEFA permitir que o PSG mantenha, em simultâneo, Messi, Neymar e Mbappé, o futebol terá, oficialmente, sido roubado à Europa.