Cristiano não tem um patrão, tem um parceiro de negócios, e o jogo deles é outro
1 - Cristiano Ronaldo trocou a glória da quinta taça dos campeões europeus pelo choque do pretenso anúncio (o sexto ou sétimo) de que vai deixar o Real Madrid. Se o gesto faz dele menos ou mais egocêntrico aos olhos do público interessa pouco aos 33 anos, mas a ligeireza com que os profissionais deste nível falam de contratos assinados está noutro patamar de conversa. O assunto é complicado. Ronaldo e o Real Madrid não são futebolista e patrão; são parceiros comerciais que dividem receitas comuns. Às vezes, quem fala é o merceeiro que Cristiano tem dentro e o alarme que dispara na cabeça de Florentino Pérez não é do presidente preocupado com os golos. Afligem-no as vendas de camisolas, os patrocínios, os mil milhões de chineses e o terror de que, sem Ronaldo, a liga espanhola tropece no valor de mercado antes do próximo contrato televisivo. Aflige-o, como lhe chamam no século XXI, o futebol.
2 - O Real Madrid de Ronaldo, Benzema e Marcelo ganhou duas ligas dos campeões por cada título espanhol. É a primeira equipa especializada em Champions da história. Talvez nem seja uma estratégia do clube, com certeza não é uma estratégia de Zidane, mas o campeonato espanhol não fascina os jogadores. Os famosos problemas de motivação e disciplina do balneário galáctico desaparecem quando toca aquele hino, mesmo que o treinador não seja um génio, mesmo que a tática tenha falhas. Até a média de golos na Liga dos Campeões está umas décimas acima. Ronaldo foi o maior marcador em Espanha três vezes, a última delas em 2014/15; na Champions, é o maior marcador há seis épocas seguidas. São mais sintomas de que o futebol (o do século XX) está a fugir-nos das mãos.
